É professora da FGV e professora-visitante de Harvard. Foi diretora de Educação do Bird, secretária de Educação do Rio e ministra da Administração. Escreve às sextas-feiras.
Criando um mundo para todos
(Xinhua-2.mar.2016/Action Press/ZUMAPRESS) | ||
Crianças refugiadas chegam à ilha de Lesbos, na Grécia, após travessia de barco |
Assisti, com emoção, à cerimonia de abertura dos Jogos Paraolímpicos. De fato, sabemos organizar festas e esta tinha uma característica especial. De alguma maneira estávamos celebrando um mundo em que todos possam se sentir incluídos e a vida possa se reinventar quando, aparentemente, algo se coloca como obstáculo para a realização de um sonho.
Mas para que a inclusão seja efetiva e o sonho viável, numa perspectiva mais ampla, outros fatores têm que entrar em cena. Devem ser implantadas políticas públicas que favoreçam, por exemplo, o acesso a escolas equipadas para atender às diferentes necessidades de crianças e jovens cadeirantes, surdos, cegos ou com deficiência intelectual, que lhes permitam aprender, mas também brincar no recreio ou ter aulas de educação física com as adaptações necessárias. Devemos favorecer a circulação na cidade de pessoas com mobilidade prejudicada, em calçadas eventualmente bonitas e de valor histórico, mas que impedem cadeiras de roda de circular.
Mas não precisamos incluir apenas as pessoas com deficiência. Para que o mundo se torne um lugar mais bonito, os países devem prestar atenção aos milhares de crianças e jovens que precisam sair de suas terras por guerras, perseguição e pobreza. De acordo com o relatório "Desenraizados", divulgado nesta quarta-feira (7) pelo Unicef, cerca de 50 milhões de crianças vivem longe de seus países de origem, obrigadas a fugir da violência ou migrar em busca de oportunidades. Muitas delas viajam sozinhas e se expõem a todo o tipo de risco. Só em 2015, cerca de 100 mil crianças desacompanhadas solicitaram asilo em 78 países, o triplo do registrado em 2014.
Quando estava no Banco Mundial, conversei com o ministro da Educação do Líbano, país que recebia parte importante dos refugiados da Síria. Para poder incluir as crianças nas salas de aula, foi preciso colocar as escolas libanesas de volta em dois turnos, o que eles já tinham superado. Observe que a média de permanência de refugiados em um país de acolhimento é de cerca de 17 anos.
O Brasil não está de fora desse problema. Segundo o Comitê Nacional de Refugiados (Conare), o número total de solicitações de refúgio no país aumentou mais de 2.868% entre 2010 e 2015. Entre eles, crianças e jovens da Síria, de Angola e da Colômbia.
Eles também têm que ser incluídos, com a devida adaptação, nas escolas. A política educacional deve apoiar, de forma efetiva e adaptada às necessidades deles, o seu acesso a escolas, a atividades de lazer, a uma vida saudável e sem medo. Porque pior do que lhes destruírem a pátria é deixá-los sem futuro.
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