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claudia antunes

 

02/02/2012 - 07h00

Questão em Cuba é como chegar a uma democracia de verdade

CLAUDIA ANTUNES
DO RIO

É verdade, infelizmente, que o tema dos direitos humanos há muito tempo se tornou, como disse Dilma em Cuba, uma arma política e ideológica na arena internacional e nos embates domésticos.

Basta lembrar que muitos dos que cobram no Brasil uma condenação oficial e pública à falta de liberdades na ilha argumentaram em 2009 que não houve golpe em Honduras --onde, sob um governo eleito em condições não democráticas, grassa hoje a repressão a ativistas da oposição e à imprensa, com 13 jornalistas assassinados em pouco mais de dois anos.

É patente também que o Itamaraty e o Palácio do Planalto ainda não tratam dos direitos humanos de modo coerente ao mesmo tempo com os princípios da política externa inscritos na Constituição e a anunciada não-seletividade.

Dilma caiu em contradição ao citar apenas o caso da prisão americana de Guantánamo, ao mesmo tempo em que dizia que todos têm telhado de vidro.

O pior, porém, é que o debate sobre Cuba é pobre e caricato, reproduzindo polarização da Guerra Fria como a que ainda existe nos EUA e alimenta o regime na ilha.

A questão não é se é necessária a abertura política no país caribenho --claro que sim, dado o anacronismo e as arbitrariedades do sistema.

A questão é como chegar lá sem reproduzir um arremedo de democracia como outras existentes na região, nas quais direitos civis são mera formalidade e direitos sociais são escassos.

Nesse sentido, como aponta a especialista americana Julia Sweig, é bem possível que as reformas econômicas em curso na ilha propiciem pela primeira vez em 52 anos o crescimento de uma sociedade civil independente do Estado, antes pai, patrão e vigilante.

Como no processo em curso em países como Egito e Tunísia, caberá a essa sociedade sua própria emancipação, para que ela seja dona do futuro pós-ditadura.

O que o Brasil precisa é ter cuidado para não ficar identificado demais com um modelo destinado a mudar, nem que seja pela idade avançada dos seus principais dirigentes.

claudia antunes

Claudia Antunes, jornalista carioca, formada em jornalismo pela UFRJ, está na Folha desde 2000. Foi coordenadora de redação da Sucursal do Rio (2000-2005), editora de "Mundo" (2006-2009) e atualmente é repórter especial do jornal. Antes, trabalhou por 13 anos no "Jornal do Brasil", onde foi editora de "Internacional". Entre 2005 e 2006, foi bolsista da Fundação Nieman para o Jornalismo, na Universidade Harvard. Escreve às quintas na versão impressa da Página A2.

 

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