É repórter especial da Folha, especializada em saúde. Autora de "Quero ser mãe" e "Por que a gravidez não vem?" e coautora de 'Experimentos e Experimentações'.
Escreve às terças.
SP corre o risco de perder um dos centros de saúde mais antigos do país
Anderson Prado/Folhapress | ||
Hospital público de Campinas (SP) lotado durante epidemia de dengue em 2014 |
"Eu acho que os hospitais estão lotados, e também não tem muitos médicos para atender as pessoas e também tão lotadas as internações, uma fila para operar. Igual eu. Eu operei e demorei muito, muito para operar minha hérnia, que eu tinha."
Rahianny só tem dez anos e conhece bem a realidade dos hospitais públicos. Embora não haja novidade em seu relato à Folha, é emblemático que a situação do SUS já faça parte das preocupações de uma criança.
O SUS também está no radar do médico Drauzio Varella, que acaba de lançar uma série de vídeos chamada "O Sistema", que tem por objetivo mostrar os diferentes lados do nossos sistema de saúde, o que tem de certo e o que tem de errado.
A série começa com a história de Darlene, uma usuária do SUS que descobriu no autoexame um nódulo suspeito na mama, mas que, por conta da demora no tratamento, viu o câncer avançar.
Dramas como os de Darlene e de Rahianny estão tão ligados ao SUS que parecem que já são a tradução desse sistema que em 2018 completa 30 anos. As queixas são mais do que legítimas, mas é preciso dar um passo além. É preciso cobrança, vigilância e defesa coletiva deste SUS que é nosso.
No domingo, ganhei uma festa surpresa de aniversário e minhas amigas fizeram circular no salão um abaixo-assinado pelo não fechamento do Centro de Saúde Escola Geraldo de Paula Souza. Parte dos recursos para a manutenção do centro vem de um convênio com a Prefeitura de São Paulo. No mês passado, a diretoria técnica anunciou que o convênio seria rompido e vários funcionários começaram a receber aviso prévio.
A unidade atende 110 mil pessoas em São Paulo e faz mais de 5 mil atendimentos por mês. Ela pertence à USP e funciona na área da Faculdade de Saúde Pública, zona oeste de São Paulo, e é uma das mais antigas unidades de saúde do país.
Além de oferecer atenção primária aos moradores da região, o centro é referência no tratamento de hanseníase, doenças sexualmente transmissíveis, tuberculose e câncer de pele em São Paulo. Um em cada quatro pacientes atendidos é idoso. Ali há também muita gente que, sem conseguir continuar bancando o plano de saúde, migrou para o SUS. Foram especialmente os idosos que assumiram a mobilização em torno do não fechamento do centro.
Nesta terça (10), o secretário municipal da Saúde, Wilson Pollara, negou que o centro vá ser fechado. Ele disse que houve um mal entendido no momento em que a prefeitura discutia ajustes nos termos do convênio, mas que tudo já está resolvido e que os usuários podem ficar tranquilos.
De qualquer forma, achei ótima a iniciativa de mobilização. Afinal, até quando vamos continuar assistindo inertes ao desmonte dos bons serviços públicos de saúde? É com essa mensagem que eu me despeço de vocês por um tempinho.
A partir da próxima semana estarei em Moçambique (África) até dezembro treinando jornalistas na cobertura de saúde, com foco em questões ligadas ao HIV, segurança alimentar, planejamento familiar, saúde materno-infantil, saúde sexual e reprodutiva. O programa é desenvolvido pela Irex, uma organização sem fins lucrativos, em parceria com a USAID. Até a volta!
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