Claudio Bernardes

Engenheiro civil e vice-presidente do Secovi-SP, A Casa do Mercado Imobiliário

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Claudio Bernardes

Brasil tem recursos suficientes para investir na educação de jovens?

Há algumas semanas, eu escrevi sobre os territórios educadores nas cidades. No texto, eu tratava não só da educação, mas da necessária adequação dos espaços urbanos para essa finalidade. Esse é um assunto de extrema importância para o desenvolvimento econômico e social em todo o mundo e, principalmente, no Brasil.

Se quisermos nos transformar num país evoluído econômica e socialmente temos de, inexoravelmente, cuidar para que nossas crianças sejam educadas e preparadas para viver e vivenciar uma nação diferente, onde todas tenham oportunidades equânimes de adquirir conhecimentos com qualidade, e possam aprender a viver harmonicamente numa sociedade com valores éticos, morais, respeito ao meio ambiente e, principalmente, aos seus semelhantes.

Segundo dados do Banco Mundial, 26% da população do planeta tem entre zero e 14 anos de idade, o que representa cerca de 1,9 bilhão de pessoas. No Brasil, dados do IBGE indicam que 22% das pessoas estão nessa faixa etária. Considerando que 85% dos brasileiros residem em áreas urbanas, temos hoje, no Brasil, 38 milhões de crianças vivendo nas cidades (42 milhões em todo o país).

A nossa taxa de crescimento populacional está em declínio, mas ainda é positiva. De acordo com o IBGE, ela foi de 0,8% entre os anos de 2015 e 2016. Mantida essa média, mais de 1,6 milhão de crianças engrossarão esse contingente por ano.

Mas há recursos suficientes para a educação?

Considerando a nossa carga tributária e a capacidade brasileira de gerar riquezas -o Brasil é hoje a nona maior economia do mundo-, seguramente não deveriam faltar recursos para educarmos nossas crianças, desde que as verbas fossem adequadamente priorizadas e administradas. Contudo, a cada dia ficamos estarrecidos com mais casos de corrupção, malversação de dinheiro e assalto aos cofres públicos.

A situação se agrava ainda mais ao assistirmos corruptos condenados cumprirem penas mínimas e serem soltos pelo Supremo Tribunal Federal. Não obstante, temos um enorme contingente que nem sequer foi julgado, graças ao absurdo mecanismo do foro privilegiado, que nada mais faz do que abarrotar o STF. Além de subtrair recursos públicos fundamentais da educação, essas pessoas espúrias submetem nossas crianças a péssimos exemplos de comportamento.

Segundo a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Brasil gasta anualmente US$ 3,8 mil (R$ 12,2 mil) por aluno do primeiro ciclo do ensino fundamental. A cifra representa menos da metade da quantia média desembolsada por ano com cada estudante nessa fase escolar pelos países da OCDE, que é de US$ 8,7 mil (R$ 27,9 mil).

Nos anos finais dos ensinos fundamental e médio, a situação não é diferente. O Brasil gasta, por ano, a mesma soma de US$ 3,8 mil (R$ 12,2 mil) por aluno desses ciclos e ocupa, assim, um dos últimos lugares entre os 39 países que forneceram dados para a organização. Nos últimos anos, essas nações investiram, em média, US$ 10,5 mil (R$ 33,7 mil) por aluno, o que representa 176% a mais do que o gasto brasileiro.

Esse estado de coisas tem de mudar rapidamente. Há que se louvar e aplaudir aqueles que estão lutando para desbaratar essas quadrilhas de corruptos, apesar de sabermos que essa é uma tarefa árdua, principalmente porque há indícios da perpetuação desse modelo de corrupção por estados e municípios em todo o país. Esses esquemas subtrairiam, não se sabe ao certo, bilhões de reais, não só da educação.

Se quisermos ser uma nação desenvolvida e competitiva, é urgente reestruturar o nosso programa educacional. E permanecer no caminho de combate à corrupção, sem esmorecer e de forma inflexível, é um grande passo para alcançar esse objetivo.

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