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clóvis rossi

 

02/07/2012 - 03h30

Depois de ter feito o México, o PRI poderá agora desmontá-lo em sua volta ao poder

O México é uma obra do PRI (Partido Revolucionário Institucional). Afinal, ocupou praticamente todos os espaços de poder durante 71 anos consecutivos, até 2000.

Agora que volta ao poder com Enrique Peña Nieto, a julgar pelas pesquisas de boca de urna, seu desafio é o de evitar que o Estado que construiu, com todos os seus defeitos e qualidades, seja destruído pelo avanço do crime organizado e se torne um "narcoestado". Para evitar esse desenlace, o presidente Felipe Calderón lançou o Exército às ruas e declarou guerra aberta aos cartéis.

O resultado é controvertido. O nível de violência no México segue insuportável, houve cerca de 50 mil assassinatos no período Calderón.

O governo alega que a violência é produto de disputas entre gangues: relatório da Procuradoria Geral informa que "70% das mortes ocorreram no contexto da rivalidade entre grupos criminosos e se deram em oito Estados (o México tem 32 Estados)". Calderón justifica o recurso ao Exército afirmando que, se nada tivesse sido feito, "o país estaria completamente dominado pelos cartéis e o crime organizado teria crescido até o ponto de que as instituições do Estado teriam deixado de funcionar e seriam postas a serviço do crime".

É nesse contexto que Peña Nieto vai assumir. Em conversa com a Folha em Davos, em janeiro, ele disse que pretende retirar gradualmente o Exército da guerra. É verdade que condiciona a retirada a um levantamento para conhecer a força do crime organizado em cada região.

Mas sua estratégia, segundo anunciou ao "New York Times", é mudar o foco: em vez de concentrar esforços em capturar os "capi" dos cartéis (17 dos 22 principais foram presos no governo Calderón) trataria de reduzir os níveis de homicídios e de violência.

Esse anúncio alimentou a sensação disseminada entre analistas mexicanos de que Peña Nieto tratará de conseguir uma acomodação com os criminosos, mais ou menos assim: vocês continuam ganhando dinheiro com o narcotráfico, mas deixam de semear cadáveres pelo país.

É um caminho extremamente arriscado, como aponta Robert Bonner, com a experiência de quem serviu na DEA, a agência anti-drogas dos EUA: "A acomodação pode reduzir um pouco a violência no curto prazo, mas, no fim das contas, o único caminho para o México restaurar a ordem é derrotar os cartéis de uma vez por todas".

Essa é a batalha crucial para o novo presidente, porque os demais problemas legados pelas sete décadas de governos do PRI são comuns a outros países da América Latina: os 52 milhões de pobres (42% da população) ou os 30% que só encontram emprego no setor informal.

A violência é que representa a especificidade mexicana. Custa 1% do PIB e ameaça fazer dele um "narcoestado".

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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