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clóvis rossi

 

03/01/2013 - 03h03

Chávez e Lula, caminhos opostos

Está em curso na Venezuela uma evidente operação para preparar o público para a morte do presidente Hugo Chávez.

Basta comparar o tom das escassas informações oficiais quando da primeira cirurgia, em 2011, com as da quarta, no mês passado. Antes, tentava-se passar uma ideia de invencibilidade do presidente, quase imortalidade. Agora, admite-se que é mortal e, pior, que a morte pode não ser um evento distante.

É sintomático o texto da jornalista e professora universitária Mercedes Chacín, pendurado na página da Telesur, a emissora de TV que Chávez criou: "Seja logo ou mais adiante, o presidente Chávez já não estará conosco. O pouco que sabemos é que está mal e, se está mal, devemos preparar-nos para o pior, como diz o lugar-comum".

Do ponto de vista do chavismo, preparar-se para o pior é descobrir caminhos para que a chamada Revolução Bolivariana possa prosseguir na ausência de seu criador. Tarefa imensamente complexa, a julgar pela história dos caudilhismos, de que a América Latina parece um viveiro permanente.

Neste ponto, convém repassar a evolução recente de Brasil e Venezuela. A Venezuela foi dos poucos países latino-americanos a ficar livre de caudilhos, desde a deposição de Marcos Pérez Jiménez em 1958.

Predominou a institucionalidade convencional, assentada em dois partidos de massa, a Ação Democrática (social-democracia) e o Copei (democracia cristã).

O fracasso desses dois partidos em governar para as maiorias abriu espaço para que emergisse o caudilho chamado Hugo Chávez Frias.

O Brasil, ao contrário, cultivou seus personalismos (varguismo, janismo, ademarismo, brizolismo) que, sem a força de Chávez, deixaram sua marca. Contra eles, surgiu o, digamos, "partido militar" (1964/1985). A redemocratização leva a um regime de partidos até que a ascensão de Lula ao poder (2003) gera um neocaudilhismo.

Mas, para sorte do Brasil, Lula descartou a principal característica do caudilhismo, que é a tentativa de perpetuar-se no poder.

Indicou, é verdade, a sua sucessora e emplacou-a, mas o que prevalece são as instituições, ainda que defeituosas, e não a vontade de um líder-salvador-da-pátria.

Para azar da Venezuela, o agravamento do estado de saúde do presidente coincide com o melhor momento da economia em todo o reinado de Chávez: a redução da pobreza, marca indiscutível do período, se acentuou no ano passado.

São pobres, agora, 21,2%, queda de cinco pontos sobre os 26,5% de 2011; a inflação, um dos fracassos do chavismo, caiu de 27,6% em 2011 para 19,9%; o rendimento real dos assalariados, já descontada a obscena inflação, subiu 3,1% no ano passado, depois de outra alta, ainda mais expressiva (8,5%) em 2011; 4 milhões de empregos foram criados nos anos Chávez, reduzindo o desemprego a 6% em 2012.

São números como esses que explicam porque, para uma parcela majoritária dos venezuelanos, o "pior" será a morte ou incapacitação de Chávez, por mais que uma parcela algo menor (44% na eleição de outubro) torça para isso.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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