Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

clóvis rossi

 

01/03/2013 - 14h05

Hino ao trem (italiano)

Depois de um mês e muitas viagens de trem pela Itália, a serviço ou passeio, só aumentou minha indignação com o fato de que o Brasil desprezou a ferrovia e não consegue nem iniciar a linha de alta velocidade entre o Rio e São Paulo.

O TAV (Trem de Alta Velocidade) italiano é um espetáculo, surpreendente para quem tivera, como eu, uma experiência traumática na incursão anterior pelas Ferrovie dello Stato Italiane.
Em pleno inverno do ano 2000, eu, minha mulher, filho e nora, tomamos um trem (noturno) em Paris para ir a Milão e, depois, seguir para Veneza.

Seria uma cabina para nós quatro, imaginávamos, com o devido leito. Leito, até havia, mas, pelo menos no nosso vagão, não havia calefação nem luz e entrou também um casal adicional, com dois filhos pequenos, que não nos deixariam dormir, se o frio penetrante já não tivesse se encarregado de destroçar a noite.

Os trens italianos daquela época pareciam carroças, cheias de grafitadas horríveis, equipamentos à beira da exaustão.

Por isso, quando subi ao trem que me levaria de Zurique a Milão, tomei um (agradável) susto: a Itália, a partir de 2005, deslanchou um processo de construção/modernização de suas ferrovias e, hoje, dispõe de 1.434 quilômetros de trens de alta velocidade.

São os "freccia" (flecha vermelha, flecha prata, flecha branca), que, no ano passado, transportaram 39,8 milhões de passageiros.

Confortáveis, permitem, por exemplo, fazer em 2 horas e 55 minutos a ligação entre as duas principais cidades italianas, Roma e Milão, sem paradas intermediárias, com acesso a internet a € 0,01 (sim, isso mesmo, um centavo).

O sistema de informações, nas estações como nos trens, é perfeito, o que facilita a vida do viajante, mesmo que não fale italiano.

A alta velocidade permite viagens bate-e-volta, por exemplo, entre Milão e Bolonha (1 hora de duração). Ou seja, você se hospeda em Milão, pega o trem de manhã para Bolonha, conhece o essencial da cidade (concentrado no centro velho), almoça, passeia mais um pouco, e volta, sem precisar levar bagagem.

O preço do bate-e-volta é mais confortável do que uma ida-e-volta em dias diferentes.

Resumo da história, segundo o jornal britânico "Guardian": "Os trens são uma das seis razões para amar a Itália, porque ligam todas as principais cidades, são velozes e custam pouco".
Acho que morrerei antes de ler algo parecido sobre os trens brasileiros.

PS - As outras cinco razões para o Guardian amar a Itália: a comida, as crianças, as marcas de luxo, o esporte e a cultura.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página