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clóvis rossi

 

31/03/2013 - 03h00

Brasil, democracia falha

Acaba de sair mais um ranking internacional e, de novo, a colocação do Brasil é desagradável.

Trata-se do "Índice de Democracia-2012" da EIU (Unidade de Inteligência da Economist, o braço de pesquisas da badalada revista britânica).

O Brasil fica em 44º lugar, empatado com a Polônia, em um total de 165 Estados e dois territórios. Leva nota total 7,12 e é classificado como "democracia falha", o segundo degrau do índice.

O primeiro é "democracia plena", o terceiro é "regime híbrido", com elementos tanto de democracia como de autoritarismo, e o último, obviamente, é "regimes autoritários".

O ranking leva em conta cinco características; processo eleitoral e pluralismo, liberdades civis, funcionamento do governo, participação política e cultura política.

O Brasil vai bem nos dois primeiros, como é natural após 30 anos de processos eleitorais limpos, de pluralismo (até excessivo) de vozes na arena política e de vigência das liberdades públicas clássicas.

Mesmo o "funcionamento do governo" é avaliado como razoável (nota 7,5).

Ou seja, nos quesitos formais da democracia, o país está bem. A falha, que rebaixa a nota geral, se dá em "participação política" (nota 5) e, pior, em "cultura política", item em que é reprovado (apenas 4,38).

É óbvio que esse tipo de ranking pode sempre ser questionado porque envolve uma certa subjetividade. Se eu fosse "rankeador", jamais colocaria Cabo Verde (é o 26º colocado) à frente do Brasil.

Mas é mais útil, em vez de questionar o ranking, questionar os defeitos que puxam o país para baixo. E, aí, acho que só os patrioteiros fanáticos de plantão duvidarão das baixas participação e cultura políticas do país.

Não vou me estender a esse respeito até porque tratei um pouco do tema faz apenas uma semana.

Melhorar no ranking de democracia não é apenas uma questão de orgulho patriótico. Basta citar os 10 países que ocupam os primeiros lugares para perceber como seria bom estar ao lado deles: Noruega, Suécia, Islândia, Dinamarca, Nova Zelândia, Austrália, Suíça, Canadá, Finlândia e Holanda.

Nem dá para dizer que são países ótimos, mas monótonos, porque pelo menos Austrália e Holanda são divertidíssimos.

Brasil à parte, vale registrar que pouco menos de metade da população mundial vive em democracia, plena, falha ou híbrida. Mas só 11% dos habitantes do planeta residem no que a EIU considera democracias plenas. Pior: 2,6 bilhões de pessoas, mais de um terço da população mundial, ainda vivem sob regimes autoritários, número muito influenciado pela China, 142ª colocada, com merecido zero em "processo eleitoral e pluralismo".

O relatório constata que a crise de 2008 e seus desdobramentos "continuam a ter impacto negativo em democracias supostamente estáveis do mundo rico", numa prova de que "mesmo democracias há muito estabelecidas são vulneráveis à corrosão se não forem nutridas e protegidas". Imagine então no Brasil.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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