É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Na distensão, o charme da burguesia atrapalha
O mais importante obstáculo para a reabertura recíproca de embaixadas entre Cuba e os Estados Unidos poder-se-ia chamar de "o nada discreto charme da democracia/burguesia".
Trocando em miúdos: as autoridades cubanas não se sentem à vontade para aceitar que diplomatas norte-americanos andem confortavelmente pela ilha vendendo o "american way of life".
E há poucas diplomacias no mundo mais eficientes em vender o capitalismo liberal e seu apêndice político, a democracia, do que a norte-americana.
Em Cuba, a apenas 150 quilômetros da costa norte-americana, a atração já é quase fatal, apesar de mais de meio século de estranhamento.
Lembro-me de ter estado na ilha pela primeira vez em 1977, 15 anos depois do início do bloqueio. Ainda assim, a garotada cubana, mesmo a nascida pós-revolução, me cercava para pedir chiclé, certos de que eu era americano.
Agora, antes mesmo da troca de embaixadores, já há cubanos/as vestindo roupas com as famosas estrelas e listras da bandeira dos EUA.
É fácil, pois, imaginar o que poderia ocorrer quando os "gringos" saíssem pela ilha propagandeando a sua prosperidade, em meio às tremendas carências do cubano médio.
Não quer dizer, no entanto, que está fracassando a reaproximação. É do interesse dos Estados Unidos, empenhado em retirar o tema Cuba de sua agenda com a América Latina.
E é do interesse de Cuba, que espera um formidável empurrão econômico a partir do turismo e dos investimentos norte-americanos.
Mas, como já havia avisado Raúl Castro, logo após o anúncio da reaproximação, em fevereiro, é preciso paciência.
Não se trata de um processo fácil, até porque são apenas cinco meses de negociações, poucos para superar 54 anos de distanciamento.
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