É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Fracassa o 'Super PAC' global
A cúpula do G20 deste ano, que começa domingo (15) no balneário turco de Antalya, será, acima de tudo, a da acomodação ao crescimento medíocre da economia mundial.
As 20 maiores economias do planeta manterão de todo modo o compromisso, adotado na cúpula de 2014, de tomar medidas que levem o crescimento mundial, em 2018, a ser 2,1 pontos percentuais superior à previsão do FMI para a cúpula de 2013 –o que representaria acrescentar formidáveis US$ 2 trilhões à economia mundial.
Daria um terço mais do que é toda a economia do Brasil, estancada em US$ 1,5 trilhão.
Mas a menção à meta será feita sem fanfarra, ao contrário do que ocorreu em Brisbane (Austrália), sede da cúpula anterior.
Roberto Stuckert Filho - 15.nov.2014/PR | ||
Ao lado de Obama, Dilma acena em foto oficial da cúpula do G20 em Brisbane (Austrália), em 2014 |
O comunicado da reunião de ministros da Fazenda que antecedeu a cúpula de Antalya e que, geralmente, é reproduzido pelos seus chefes diz: "Continuamos comprometidos com a implementação efetiva e em tempo de nossas estratégias de crescimento que incluem medidas para apoiar a demanda e elevar o crescimento potencial".
O número mágico de 2,1 ponto percentual nem é expressamente mencionado. Nem seria conveniente: a previsão de 2013 do FMI era de crescimento de 2,9%. O mundo teria de crescer 5%, em 2018, para cumprir as metas fixadas em Brisbane.
A mais recente previsão para a economia mundial, da agência de avaliação de risco Moody's, diz que o crescimento médio do PIB do G20 para o período 2015/17 será de 2,8%, só 0,3 ponto percentual acima do período 2012/14 e abaixo da média de 3,8% registrada nos cinco anos anteriores à crise mundial.
Avalia Tristram Sainsbury, pesquisador do Centro de Estudos do G20 do Lowy Institute (Austrália): "O tempo está correndo, e o FMI, além de rebaixar a perspectiva de crescimento, ainda não atribui crescimento algum como resultado das ações propostas em Brisbane".
O compromisso das grandes economias amparava-se numa espécie de "super PAC global", um programa mundial de aceleração do crescimento composto de mil iniciativas.
Nas discussões entre os negociadores do G20, prévias à cúpula, ficou claro que medidas adicionais terão de ser anunciadas –e, acima de tudo, implementadas. O Brasil, por exemplo, porá na mesa o PIL (Programa de Investimento em Logística), anunciado faz tempo.
Mas não basta. A Folha ouviu de uma das negociadoras (o Brasil só tem negociadores) que "o esforço tem de triplicar porque, por enquanto, não estão dadas as condições para atingir a meta".
Como em todas as cúpulas anteriores desde a eclosão da crise de 2008, os EUA assumem papel de, digamos, "desenvolvimentistas" em contraponto aos que ainda se aferram à austeridade.
É o contrário do que acontece com o Brasil: até Brisbane, com Guido Mantega ainda à frente da Fazenda, o país alinhava-se aos EUA na crítica à excessiva ênfase na austeridade, com apoio de Dilma Rousseff.
Joaquim Levy, no seu primeiro G20, ainda está preso à austeridade (com apoio de Dilma?). Mesmo assim, não está sendo cobrado porque não é da praxe do G20 individualizar situações.
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