É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
O Brasil cai do mundo
O título da sessão, neste sábado, 23, dia de encerramento do Fórum de Davos, era "Panorama da Economia Mundial".
Seis pessoas falaram durante uma hora, mas a palavra Brasil só foi pronunciada uma vez, assim mesmo "en passant", para dizer que o Brasil, assim como a Rússia, foi "grande vítima" da queda de preço das commodities.
Que o Brasil tenha saído do mapa do mundo, pelo menos nesta edição do Fórum Econômico Mundial, é perfeitamente compreensível: trata-se de uma economia em queda livre, ao contrário do resto do mundo, para o qual a diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde, anunciou o que já se sabe, "crescimento modesto e desigual".
O que choca quem acompanhou a ascensão do Brasil à estrela em edições anteriores do Fórum é a comparação com o Japão: o país asiático foi, durante décadas, o "doente" do mundo rico, com sucessivas recessões.
Agora Haruhiko Kuroda, governador do Banco do Japão (o BC japonês), fala em crescimento de 1,2%, o que parece pouco, mas é importante para uma economia madura e cujo desemprego é residual, mesmo após anos de estagnação.
Outro país que foi estrela anos a fio em Davos, a China, desta vez é fonte de inquietação.
Lagarde aponta como um dos riscos para o crescimento econômico mundial o que ela chamou de "tripla transição" chinesa: da indústria para os serviços; da exportação para o mercado doméstico; e do investimento para o consumo.
"É um formidável movimento", comentou a chefe do FMI.
Tidjane Thiam, executivo-chefe do Credit Suisse, comentou que, entre seus pares, há o temor do chamado "hard landing" da economia chinesa (um pouso acidentado após tantos anos de crescimento).
Se houver, o preço das commodities cairá mais e entrará no radar o risco de uma recessão global. Ninguém disse, mas é óbvio que o Brasil será de novo vítima se se produzirem todas essas circunstâncias ou mesmo uma delas.
Em todo caso, Thiam ressalvou que não compartilha da avaliação de seus pares e que espera um pouso chinês suave.
Opinião coincidente com a de outros debatedores (o ministro do Tesouro britânico, George Osborne, e o ministro de Finanças da Índia, Arun Jaitley).
Por falar em Índia: é a nova estrela de Davos, reforçando uma posição que vinha ocupando, à sombra da China, já há uns três ou quatro anos. Seu crescimento (7,5%, o maior das grandes economias) justifica o brilho. Tanto brilho que, ao fazer a pergunta a Jaitley, o moderador Martin Wolf disparou: "Vocês têm algum problema?".
Tem, respondeu o ministro indiano —e é o mesmo do Brasil, mas em escala maior: a pobreza.
Para combatê-la, o remédio é crescimento elevado, receitou Jaitley, ressaltando que nos últimos anos nunca baixou de 5%.
Tudo somado, a conclusão do plenário é que a turbulência desta semana nos mercados foi só "reação exagerada" e que as grandes economias vão relativamente bem, se os mercados estiverem certos.
Brincou Wolf: "Os mercados estão sempre certos, menos quando não estão".
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