É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
#OÚltimoDiaDaGuerra
Quando a liderança das Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) plantou nas redes sociais a hashtag que dá título a esta coluna, estava na prática referendando a grandeza que teve o presidente Juan Manuel Santos ao aceitar o caminho difícil, o da paz.
Coisa de estadista, como reconhece Felipe González, o ex-presidente de governo espanhol, em artigo para "El País": "Sempre tem sido mais fácil fazer a guerra que construir a paz. A guerra é mais dolorosa por suas vítimas e horrores, mais custosa em recursos humanos e materiais, mas mais simples. Afinal, trata-se de destruir o outro, seja como for. Quem tem mais capacidade de fazê-lo pode terminar ganhando."
Já a paz é uma busca tortuosa, prenhe de obstáculos que, no início do processo, parecem impossíveis de ultrapassar.
Mesmo agora, quando a guerra de 52 anos de duração está com os dias contados, Santos enfrenta acusações inacreditáveis, como relata Gustavo Alvira Gómez, colunista do sítio "Latin America Goes Global":
"No que parece ser um esforço para roubar uma página do livro de jogo político de Donald Trump, os oponentes do processo de paz estão acusando o presidente Juan Manuel Santos de ser um membro secreto das Farc e de orquestrar um golpe contra as instituições do Estado."
É o contrário, como constata o citado Alvira Gómez: "A administração Santos está percorrendo extraordinárias distâncias para preservar a Constituição da Colômbia e respeitar o desejo do povo colombiano" [nunca é demais lembrar que o acordo com a guerrilha será submetido a plebiscito].
Resistir às negociações de paz soa uma insanidade quando se conhecem os números trágicos que cercam o conflito colombiano, a mais antiga guerra nas Américas e a mais destrutiva –dois rankings que, por si só, justificariam tentar o caminho da paz.
No total, 7.724.879 vítimas se inscreveram no registro do Estado de cidadãos que sofreram deslocamento forçado, sequestro, morte, ameaças e/ou outros prejuízos durante a guerra.
Significa que um em cada seis colombianos foi afetado. O número de mortos entre 1958 e 2012 chegou a 218.098, segundo o Centro Nacional de Memória. Os que tiveram que deixar suas casas e se instalar em outros pontos do país são impressionantes 6.044.151.
Sempre se pode argumentar que o ideal seria derrotar militarmente a guerrilha. Mas perseguir o ideal significaria acrescentar mais números sombrios ao tremendo balanço de uma guerra que dificilmente se poderia vencer.
Até o sítio "Silla Vacía", combativo e geralmente crítico dos governos colombianos, dá a Santos o mérito de ter chegado às portas da paz.
Escreve Juanita León: "Para Santos também serviu seu íntimo conhecimento do Estado.
Como já havia jogado em várias frentes, tanto do Executivo como do Legislativo, sabia como mexer várias peças ao mesmo tempo e antecipar os cenários".
O paradoxal é que está ganhando a paz e perdendo a popularidade. Fazer o que é difícil tem o seu preço. Santos achou que valia a pena pagá-lo. Fica o exemplo.
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