É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Que Deus salve a América de Donald Trump
Eric Thayer - 2.ago.2016/Reuters | ||
O candidato republicano à Presidência dos EUA, Donald Trump, discursa em comício na Virgínia |
Da catarata de críticas despejada sobre Donald Trump nos últimos dias, escolho a de Joanne Palmer, editora do "Jewish Standard", de Nova Jersey, e que tem a cruel experiência de ter perdido uma filha (em acidente, não na guerra).
Sabe, portanto, a dor que sentem Khizr e Ghazala Khan, os pais do soldado muçulmano e americano morto no Iraque, as mais recentes vítimas do destempero de Trump.
Escreve Palmer: "Não entendo como alguém pode atacar os pais de uma criança morta. (...) Tudo o o que alguém deveria fazer quando confrontado com a dor inimaginável é se calar." Trump, no entanto, é incontrolável, como aponta Robert Kagan, pesquisador-sênior do centro de estudos Brookings, no "Washington Post":
"Não é apenas o fato de ele ser incapaz de empatia. (...) O problema real é que o homem não pode controlar-se (...) e, ainda por cima, suas patologias psicológicas são, no fim das contas, autodestrutivas".
Ou, então, como prefere o presidente francês François Hollande, "seus excessos fazem você sentir vontade de vomitar".
Tudo somado, uma pessoa capaz de provocar esse tipo de sensações está de fato incapacitado para ocupar a presidência dos EUA —ou de qualquer outro país, a bem da verdade. Que o digam seus pares dos negócios, que, por isso mesmo, devem conhecê-lo melhor que mortais comuns ou o próprio Obama.
Milionário como Trump, o ex-prefeito de Nova York Michael Bloomberg, depois de classificar o candidato republicano de "demagogo perigoso e vigarista", acrescentou: "Ele diz que vai dirigir a América como dirige seus negócios. Que Deus nos proteja." Suspeito que a América "e o mundo, aliás" vá de fato precisar da Divina Providência.
Apesar da catarata de críticas ao mais recente descontrole de Trump, a melhor análise do momento da campanha é do"Haaretz", de Israel:
"O Partido Republicano, se não a própria América, está como um cervo hipnotizado pelas luzes de um destrutivo trem que se aproxima. O partido sabe perfeitamente bem que Donald Trump saiu dos trilhos. Os líderes partidários estão perfeitamente a par de que ele ou perderá e conduzirá o partido a uma catástrofe eleitoral ou vencerá e porá o mundo inteiro em perigo", escreve Chemi Shalev.
Completa: "Mas, com umas poucas notáveis exceções aqui e ali, o partido está olhando, congelado, petrificado, histérico, sem a menor ideia do que deveria fazer."
É verdade que as pesquisas mais recentes apontam vantagem para Hillary Clinton, o que significa que a América e o mundo podem ainda escapar desse perigo.
Mas minha sensação pessoal —e ressalvo que sensações são sempre perigosas e suscetíveis de falharem redondamente— é a de que há muita semelhança entre a campanha britânica pelo "brexit" e a de Trump.
Como escreve para o "Guardian" Kezia Dugdale, líder do Partido Trabalhista Escocês: "Líderes populistas prometendo soluções simples, abastecidas por uma retórica raivosa sobre imigrantes e o establishment, são centrais para ambas".
Se deu certo lá, por quê não na América?
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