É repórter especial. Ganhou prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. Escreve às quintas e aos domingos.
Presidente da agência de promoção comercial vê o Brasil além da ruína
Conversar com o embaixador Roberto Jaguaribe, presidente da Apex (Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos, agora subordinada ao Itamaraty), leva a uma de duas possibilidades: ou ele não tem a mais leve ideia do país em que exerce sua função ou é um visionário capaz de enxergar além da ruína que é a pátria amada no momento.
Sim, Jaguaribe acredita, com entusiasmo, que o Brasil pode ser visto em um futuro não especificado como o "maior produtor sustentável do mundo".
Sustentável, quando o país é visto, internacionalmente, como um grande predador do meio ambiente? Sim, sustentável, porque Jaguaribe diz que o Brasil mantém uma cobertura florestal equivalente a entre 61% e 65% da original —muitíssimo mais do que Europa e EUA, grandes produtores que adoram atacar a depredação brasileira.
Jales Valquer /Fotoarena/Folhapress |
Melhor ainda: nos últimos anos, o país teria, pelas contas do embaixador, se tornado neutro nessa matéria: repõe o que desmata, pouco mais ou pouco menos.
Parêntesis importante: o embaixador atribui parte do mérito a Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente nos dois períodos de Dilma Rousseff, um raro reconhecimento a um mérito do governo anterior.
Jaguaribe tem perfeita noção de que transformar o Brasil em uma potência exportadora não é uma tarefa para o governo ou para uns poucos especialistas. Primeiro, porque o governo não exporta nem a Apex o faz (apenas estimula exportações). Segundo, porque está construindo nesses menos de quatro meses no posto uma conspiração exportadora que envolve diferentes ministérios e, naturalmente, a iniciativa privada, que, afinal de contas, é quem exporta.
O tamanho do desafio fica ainda maior quando se sabe que, além de exportações, a Apex cuida também de atrair investimentos (o que não é nada fácil quando o país está em profunda recessão) e de internacionalizar as empresas brasileiras.
Neste último ponto, a Apex já tem um escritório em Miami, aberto a empresas que queiram dar o salto aos Estados Unidos. Mas, mais que os EUA, o alvo principal para o embaixador chama-se China, já um dos dois maiores mercados do mundo e em vias de se transformar rapidamente no maior.
Jaguaribe, que ficou quase um ano como embaixador exatamente na China, tem plena noção de que não se trata simplesmente de anunciar o objetivo China para que as coisas comecem a acontecer.
Ao contrário, defende a necessidade de estudar profundamente os hábitos e modos chineses, não só para colocar produtos brasileiros (além dos primários) no mercado chinês, mas também para que empresas brasileiras lá se instalem.
Confesso que sou muito cético a respeito da internacionalização das empresas brasileiras. Para isso, elas têm que se tornar competitivas, quando está acontecendo exatamente o oposto. De todo modo, é importante que haja no governo gente com pauta muito mais ambiciosa do que o simples corte de gastos, que pode até ser necessário, mas está longe de ser suficiente para sair de fato da ruína.
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