Clóvis Rossi

Repórter especial, foi membro do Conselho Editorial da Folha e vencedor do prêmio Maria Moors Cabot.

Salvar artigos

Recurso exclusivo para assinantes

assine ou faça login

Clóvis Rossi

O ultimato que Putin não aceitará

O secretário de Estado norte-americano, Rex Tillerson, deu o que parece ser um ultimato ao presidente russo, Vladimir Putin: deve abandonar a aliança com o ditador sírio, Bashar al-Assad, e voltar-se para os Estados Unidos, seus aliados ocidentais e os países árabes que combatem Assad.

O ultimato precedeu o embarque de Tillerson para uma visita à Rússia nesta terça-feira (11).

Alguém acredita que Putin vai enfiar o rabo entre as pernas, chamar de volta as tropas que garantem a ditadura síria e passar a ser um confiável aliado do Ocidente?

É óbvio que não. Ceder à pressão dos Estados Unidos desmontaria o principal, talvez único, ativo de Putin, que é o de fazer a Rússia parecer importante de novo (se é de fato importante ou apenas parece é uma outra discussão, que não cabe aqui).

Se não cedeu no caso da Ucrânia, mesmo depois das sanções impostas pelo Ocidente, menos ainda cederá na Síria. Ainda mais que, na reunião do G7 que precedeu a viagem de Tillerson à Rússia, não houve acordo para impor novas sanções a Moscou, desta vez por causa da Síria.

Nesse cenário, a diplomacia de Donald Trump, bastante confusa e contraditória, fica diante de um punhado de desafios depois de um êxito de mídia e de opinião pública que se seguiu ao bombardeio de uma base aérea de Assad.

Primeiro desafio: o que fazer com a Rússia se ela continuar bancando Assad?

Segundo desafio: o que fazer com Assad, depois que o porta-voz da Casa Branca, Sean Spicer, inclui o uso de bombas-barril entre as armas que levariam a uma nova retaliação norte-americana?

O "Financial Times" avisa que o regime sírio intensificou os ataques aos rebeldes, inclusive com bombas-barril, assim que assentou a poeira do bombardeio a uma base área que, segundo os EUA, teria destruído um quinto da aviação síria.

É uma demonstração clara de que o ataque norte-americano não serviu para dissuadir o ditador sírio de prosseguir no genocídio a que submete sua gente.

Aliás, parece evidente que o ataque da semana passada dialogava mais com parte da opinião pública norte-americana do que com o belicismo de Assad.

Volta-se, por enquanto, à estaca zero: não está clara qual é a política de Trump para a Síria (e para o conjunto do Oriente Médio) e para a Rússia. Com esta, de qualquer modo, cavou-se um fosso, que terá que ser preenchido, com mais fel ou com algum tipo de mel que não está à vista.

Tópicos relacionados

Comentários

Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.