Feliz coincidência: no mesmo dia em que Sylvia Colombo relatava com a competência habitual o andamento do programa uruguaio de venda legal de maconha, a Comissão Global sobre Política de Drogas divulgava novo relatório, no qual condena as políticas atuais baseadas na repressão —a chamada "guerra às drogas".
No que coincidem os dois assuntos? Simples: o relato de Sylvia Colombo mostra que caíram 18% os crimes relacionados ao narcotráfico desde o início da implantação do sistema, faz apenas seis meses.
Do meu ponto de vista, qualquer programa relativo às drogas tem que ter como alvo exatamente isso, ou seja, reduzir a violência associada inexoravelmente a qualquer produto considerado ilegal.
É o que de certo modo diz o relatório da Comissão Global, que enfatiza "o custo humano de políticas equivocadas, a inabilidade delas para reduzir a produção e o consumo de drogas ilegais e para brecar [a ação] de organizações criminosas".
A Comissão não é um conglomerado de palpiteiros. Dela fazem parte, além de especialistas, como é indispensável, executivos e um punhado de ex-chefes de governo, do Maláui à Suíça, passando pelo Brasil (Fernando Henrique Cardoso), Chile (Ricardo Lagos) e México (Ernesto Zedillo). Sem mencionar Kofi Annan, ex-secretário-geral da ONU.
O relatório deste ano elenca princípios para reformar as políticas de drogas, que resumo a seguir:
Ou seja, não se trata de "chutômetro" nem de aventureirismo nem de improvisação. O importante é que o tema entre na agenda da sociedade, o que, no Brasil, está longe
demais de acontecer.
Não é assunto para poucos: a Comissão afirma que cerca de 250 milhões de pessoas (praticamente a população brasileira) usaram drogas ilegais em 2016. Delas, 11,6% são viciados ou são considerados problemáticos com o uso da droga.
Seria importante, pois, que o tema figurasse na agenda da campanha de 2018.
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