Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

clóvis rossi

 

17/05/2011 - 16h51

A primavera (árabe e europeia) e o metrô Higienópolis

A primavera árabe, se entendida como expressão espontânea de descontentamento e de rebeldia, começa a se espraiar. A Espanha é o foco mais recente: em 50 cidades, houve domingo atos de massa espontâneos, ao grito de "Democracia Real Ya", de resto nome oficial de um movimento de recente aparição, formado, como no mundo árabe, a partir das redes sociais.
Um segundo grito ouvido em toda a Espanha diz: "Não somos marionetes de políticos e banqueiros".

Ambos os cânticos têm um certo DNA de esquerda, tanto que a direita espanhola deu de ombros ao movimento. "É uma batalha dentro da esquerda", disse um dirigente do conservador PP (Partido Popular) ao jornal "El País".

É também significativo que a esquerda tenha tirado o chapéu para o movimento. "Os jovens se sentem enganados porque temos uma democracia falsa e amputada", diz, por exemplo, Cayo Lara, principal nome da IU (Esquerda Unida).

Com todas as ressalvas indispensáveis, dado o abismo entre Brasil e Espanha, Fernando de Barros e Silva identificou idêntico DNA de esquerda (nostálgica) no protesto de domingo em São Paulo, contra a mudança de local de uma estação do metrô, de Higienópolis para o Pacaembu.

Há, no entanto, duas diferenças essenciais: o protesto paulistano foi pontual e esteve mais para Woodstock higienizado do que para Maio de 68. Além disso, não parece ter vocação de permanência ou continuidade, ao contrário da Espanha, em que a moçada resolveu acampar em plena Puerta del Sol, marco zero de Madri, para a qual estava de novo chamando a turma toda esta tarde, agora para protestar contra as 19 prisões (contando só os maiores de idade) feitas domingo.

O movimento espanhol, como os árabes, passa inteiramente ao largo dos partidos políticos, o que é especialmente significativo quando se sabe que domingo próximo haverá eleições municipais e autonômicas na Espanha. Ou seja, haveria o espaço convencional que a democracia abre para protestar e/ou mudar de rumo. Se preferem gritar "democracia real ya", estão votando automaticamente contra os partidos políticos.

Javier de la Cuadra, um advogado de 48 anos partidário do movimento, definiu para "El País" os participantes das manifestações como "gente que não estava na política e decidiu reincorporar-se". Se é assim, a reincorporação está se dando à margem dos partidos ou contra eles e até à margem das ONGs, que de certa forma desempenharam um papel político extra-partidos nas últimas décadas.

Convém lembrar que em Portugal também há um movimento semelhante, batizado de "Geração à rasca" (Geração Ferrada ou outra palavra que também começa com "efe" mas não é de bom tom usar). E, na Grécia, os protestos passam igualmente ao largo dos partidos, embora tenham o apoio dos sindicatos, parte estabelecida do sistema político.

Em todos esses países, assim como no mundo árabe, a predominância é dos jovens, que, no mundo todo, têm cada vez mais dificuldades em conseguir trabalho.

Esse tipo de movimento pega no Brasil? Difícil dizer, até porque a situação econômica é favorável, ao contrário do que ocorre nos países em efervescência. Mas há um dado comum a todos: a descrença nos partidos políticos.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página