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clóvis rossi

 

09/08/2011 - 16h26

Londres também tem seu PCC

O incêndio de Londres está mais, muito mais, para PCC do que para "indignados".

Traduzindo: os distúrbios dos últimos dias podem ser comparados com os que o PCC (Primeiro Comando da Capital) promoveu em São Paulo, seis anos atrás, e não com o justo movimento de protesto que varre a Europa e se estendeu a Israel.

Cito, a propósito, Ramón Lobo, jornalista e blogueiro de "El País": "O que sucede em Londres e em outras cidades - Birmingham, sobretudo --tem a ver com a mesma crise [da Grécia], com a falta de oportunidades e de futuro de milhares de jovens, mas sua expressão não tem nada a ver com a legitimidade grega e outras expressões de raiva que tratam de ser pacíficas".

Bingo. Uma coisa é a tomada pacífica de praças públicas para discutir ideias e outra, completamente diferente, é o vandalismo completamente despido de propostas de Londres.

O vínculo com o que fez o PCC em São Paulo pode ser encontrado na figura de Mark Duggan, cuja morte pela polícia, foi o estopim para os distúrbios. Gavin Knight, autor de um livro sobre a criminalidade urbana no Reino Unido, escreveu nesta terça-feira, no "Guardian", que Duggan era membro de uma guangue chamada Star, de "notória reputação pela posse de armas e por traficar drogas classe A".

É óbvio que seus antecedentes não davam à polícia o direito de matá-lo, se não tivesse ameaçado os policiais, o que ainda não está completamente claro. Mas é também óbvio que os jovens que se revoltaram em Tottenham, o primeiro bairro a ser atingido pelos distúrbios, não estavam reagindo à morte de um trabalhador social, um "afro-reggae" colhido numa batida policial por ser negro.

Feita essas ressalvas básicas, permanece o fato de que há um caldo de cultura que empurra os jovens para a violência --e não apenas em Londres, Birmingham, Paris etc.

Tony Travers, sociólogo da London School of Economics, lembrou ao "Figaro" francês que "todas as grandes cidades do mundo produzem essas mesmas desordens". Já as tivemos em São Paulo e no Rio, pelo menos, para dar razão a Travers.

Esse tipo de vandalismo é, obviamente, um caso de polícia. Mas a situação que empurra os jovens para a violência é um problema político e social. Assim descrito pelo especialista Gavin Knight, sempre no "Guardian":

"O corte de serviços para jovens na área [Tottenham] não é desculpa para sair a saquear lojas. Entretanto, os jovens empurrados para a atividade de gangues e a pequena criminalidade ou os saques o fazem em áreas deprimidas das cidades. Sem empregos, sem qualquer aspiração social ou educacional, os serviços [comunitários] para jovens eram um meio de afastá-los [da criminalidade]. Jovens criminosos que tentam dar as costas à vida nas ruas são constantemente bloqueados pelos empregadores potenciais que fazem checagem de antecedentes. Uma violação da lei pode pesar durante anos".

Continua: "A violência acontece em áreas deprimidas onde a violência doméstica, a ruptura da família e o vício são importantes".

Reforça Travers, o sociólogo da LSE: "Em bairros como Tottenham, mesmo depois de anos de crescimento econômico em Londres, a taxa de desemprego permanece elevada, particularmente entre os jovens. Daí decorre que numerosos jovens permaneçam ociosos e essa ociosidade os incita a se comportar mal".

São análises que se aplicam não apenas a Tottenham, Londres, Paris etc, mas também a praticamente todas as grandes cidades brasileiras e latino-americanas. A diferença é que, aqui, estamos acostumados, como se fosse um mal inerente ao subdesenvolvimento. O mundo desenvolvido descobre, de tempos em tempos, que tem seus bolsões subdesenvolvidos e suas variantes do PCC.

clóvis rossi

Clóvis Rossi é repórter especial e membro do Conselho Editorial da Folha, ganhador dos prêmios Maria Moors Cabot (EUA) e da Fundación por un Nuevo Periodismo Iberoamericano. É autor de obras como 'Enviado Especial: 25 Anos ao Redor do Mundo' e 'O Que é Jornalismo'. Escreve às terças, quintas, sextas e domingos.

 

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