Todo mundo tem sua cara de espelho. Aquela cara que fazemos imediatamente quando nos olhamos no espelho. Provavelmente a expressão com a qual nos achamos mais bonitos. Me divirto com isso. Desde que me entendo por gente, a cara de espelho de minha mãe, por exemplo, é um sorriso de Monalisa. Talvez ela nem saiba disso, mas nunca lhe vi com o tal sorriso em outra ocasião. É curioso. É uma expressão exclusiva para o espelho. Quem será aquela que ela escolheu para representá-la diante dela mesma?
Na minha cara de espelho tenho o cenho franzido. Não sei exatamente o porquê, mas muitos maquiadores me perguntam ao final dos trabalhos se estou insatisfeita com seus serviços. É uma cara zangada, como que querendo entender alguma coisa. Nem sei por que faço, mas faço. Talvez eu me leve mais a sério do que deveria. Ou esteja sempre intrigada comigo mesma. Pode ser também uma tentativa inconsciente de ficar bonita como nas fotos de revistas de moda, onde o sorriso entrou em desuso. Uma espécie de síndrome Calvin Klein. Não sei, é curioso.
Além da cara de espelho, todo mundo tem também a sua cara de foto. Repare. Ela é diferente da cara de espelho. Se liberta do olhar de seu dono e é mais próxima da cara que a pessoa apresenta na vida cotidiana. Mas também é sempre igual, como um jeito escolhido para se ser. Minha cara de foto estampa um sorriso no qual não confio mais. Não por não reconhecê-lo. Me vejo nele. Mas, a cada novo clique, lá está ele de novo, banalizando tudo. Se adiantando a mim e àquela do espelho.
Uma atriz tem a chance de poder se ver de várias formas, mas, ainda assim, apesar do estudo diário a que a própria profissão nos força diante do espelho ou das lentes, tenho poucas rédeas sobre minhas versões.
Entro no elevador e mais uma vez tento me entender naqueles poucos segundos apesar de saber que não estamos mais a sós. Provavelmente alguém nos observa pela câmera: eu e minha amiga do cenho franzido. No outro dia, soube que o porteiro falou:
– Ela mexe no cabelo. Mexe de novo. E de novo. E sai igualzinha a como entrou.
É verdade. Talvez a gente só se reconheça mesmo a partir do outro. Não existe a Denise. Existe a Denise-Fulano, a Denise-Cicrano... Talvez conviver sirva pra isso. Pra gente não ficar presa no espelho.
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