Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Um passo importante
A limitação dos mandatos de dirigentes de organizações esportivas que recebem recursos públicos é questão de tempo, de pouco tempo. Embora privadas, elas representam um bem público, que é o esporte. Portanto, é o futuro do esporte nacional que está em jogo.
A presença em Brasília, nesta semana, de representantes da associação "Atletas pela Cidadania", que atua pela melhoria do esporte no país, é uma mostra de que os tempos são outros. O grupo foi buscar apoio para inserir emenda em medida provisória, que deve ser votada no Congresso em agosto.
A emenda contempla, principalmente, a limitação de quatro anos para o mandato de dirigentes de entidades esportivas e só uma reeleição, exigência que deve funcionar como contrapartida para a prioridade no repasse de verbas públicas.
Mas a medida deve chegar acompanhada de outros temas importantes, como a liberalização para que dirigentes esportivos sejam remunerados e a participação de atletas nas eleições das entidades.
A matéria é antiga, sempre enfrentou dificuldades para avanços porque bloqueia a perpetuação da cartolagem no poder.
Atualmente não existe barreira para o número de mandatos de presidentes de confederações e federações esportivas no Brasil.
Há dirigentes que estão há mais de duas décadas no poder, como Coaracy Nunes, na Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos, reeleito recentemente para o sexto mandato. No Comitê Olímpico Brasileiro, Carlos Arthur Nuzman, ocupa a presidência desde 1995 e vai até 2017, além de acumular o comando do Comitê Organizador da Olimpíada do Rio, em 2016.
A alternância no poder é saudável para o desenvolvimento do setor, e um modelo mais democrático de gestão, ainda mais levando-se em conta o aumento crescente de recursos do governo para o esporte.
Com a regulamentação proposta, a suspeita de perpetuação em postos de comando mediante troca de favores e regalias sob a bênção de verbas governamentais seria evitada. E, sabendo que pode ficar no cargo, no máximo, por dois mandatos, o dirigente vai se esforçar para implementar projetos, sem protelar.
Esse novo modelo não tem fronteiras. No futebol, dirigentes europeus se movimentam por limites de idade e de mandatos na Fifa, onde Joseph Blatter, 76, está no quarto mandato e vai até 2015.
O Comitê Olímpico Internacional já adotou o sistema de só uma reeleição. Por aqui, de forma espontânea, algumas entidades alteraram seus regulamentos para forma semelhante, casos das confederações nacionais de basquete e de atletismo, e do comitê paraolímpico.
A transparência ganha exposição quando a democracia vigora. Enfim, esse passo que o esporte brasileiro parece disposto a dar, significa o avanço almejado há décadas.
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