Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Uma pedra no caminho
A decisão tomada pelo governo de Cuba de aumentar salários de seus esportistas e liberá-los para que possam assinar contratos no exterior é um avanço para aquele país e para o mundo dos esportes.
As novas medidas, que devem vigorar a partir do ano que vem, servirão como alavanca para que a ilha caribenha tenha alguma chance de recuperar seu prestígio no campo esportivo, ou pelo menos parte dele, já nos Jogos Olímpicos de 2016, no Rio.
Bom para Cuba e uma pedra no caminho do Comitê Olímpico Brasileiro, que vislumbra, como representação do organizador dos Jogos, completar a competição com uma performance histórica, figurando entre os dez países com maior número de medalhas. Os cubanos, que na última Olimpíada já ficaram atrás dos brasileiros (14 a 17 no total de medalhas), ganham fôlego para uma reação com a nova regulamentação.
O momento é de espera para ver como a nova política esportiva de Cuba vai funcionar, se é que vai funcionar. Pouco depois da vitoriosa revolução comandada por Fidel Castro, em 1959, o profissionalismo nos esportes foi banido na ilha.
O regime, em contrapartida, passou a incentivar e a patrocinar amplamente a prática esportiva como um princípio da revolução sob o lema "El Deporte Derecho del Pueblo".
Funcionou, pois o movimento olímpico internacional se empenhava em defesa do amadorismo, vetando completamente o profissionalismo. Dessa forma, o desempenho cubano nas décadas seguintes nos eventos esportivos internacionais arrebatou manchetes de glória, mas começou a cair com as dificuldades econômicas enfrentadas pelo país após o desmantelamento, no despertar da década de 90, da União Soviética, que respaldava o regime castrista, e com o isolamento político.
O êxito cubano teve seu pico em Barcelona-1992, quando o país ficou em quinto lugar, com 31 medalhas, das quais 14 de ouro. Coincidentemente, aqueles Jogos marcaram o advento do profissionalismo, que passara a ser permitido nos Jogos. Aos poucos, enquanto outros países evoluíam com o profissionalismo e o patrocínio galopante nos esportes, Cuba estagnou.
A crise piorou com o crescimento no número de fugas de atletas cubanos de delegações em viagem ao exterior, seduzidos por promessas de sucesso financeiro e profissional. Esse assédio virou trauma para Cuba.
Assim, em Pequim-2008, com apenas dois pódios de ouro e o total de 24 medalhas, Cuba despencou para o 28º posto, aqui também com a classificação seguindo o padrão olímpico, definindo a posição pelas conquistas de ouro.
No ano passado, em Londres, foram 14 medalhas, cinco delas de ouro, e o 16º posto. O Brasil ficou em 22º, com 17 (três de ouro), mas já um passo à frente dos cubanos no total de medalhas. O duelo entre os dois pelas medalhas é inevitável, alimentando a apreensão por esse desafio que vai apontar o mais destacado latino-americano na Olimpíada.
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