Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Agenda olímpica fica negativa
Superada a convulsão da semana passada, quando o Brasil se viu pressionado pela cartolagem internacional por causa da lentidão e atrasos no processo dos preparativos para os Jogos Olímpicos de 2016, no Rio, a agenda olímpica, até então positiva para todos os entes nacionais envolvidos, passou a ser negativa.
Foi assim que a deixaram os responsáveis pelo evento -comitê Rio 2016, o organizador, e governos das áreas federal, estadual e municipal. O federal, que deve bancar grande parte das obras, ganhou evidência, natural, por ser o mecenas do circo olímpico, o principal provedor.
Desde que o Brasil reivindicou e conquistou o direito de organizar e promover a Olimpíada, em outubro de 2009, em concorrida votação na Dinamarca, o enorme porte do desafio, que exigiria trabalho árduo e competência, era conhecido. Mais: que também demandaria recursos financeiros acima dos padrões de quaisquer outros eventos internacionais.
Todas as partes envolvidas tinham noção do tamanho do rombo e do papel que caberia ao dinheiro público para que o projeto se tornasse realidade. No dossiê da candidatura, a estimativa orçamentária foi de US$ 14,3 bilhões. Era só uma estimativa, que dificilmente seria reduzida, e, como é corriqueiro em projetos semelhantes, costuma pender para mais, não para menos.
Com a aproximação do evento -faltam 843 dias para a abertura, em 5 de agosto de 2016-, é prudente uma avaliação do estágio dos preparativos, uma vez que os Jogos envolvem mais de duzentos comitês nacionais ligados ao Comitê Olímpico Internacional e competições em 28 esportes.
Em função disso, o COI esteve no Rio e viu com preocupação o estágio atual da proposta para a sede da Olimpíada e do canteiro de obras em atividade. Federações internacionais daquelas modalidades também mostraram receio com o andamentos dos preparativos. Daí a cobrança, uma vez que os prazos estão cada vez mais apertados.
Os cartolas de fora não são mais ou menos preparados do que os daqui, com exceções para o bem ou para o mal, como em todas as atividades. Trata-se, no caso, de elites da cartolagem esportiva, dotadas de farta experiência no ramo.
Portanto, em que pesem os atrasos, é de bom tom não se deixar levar por factoides, já que a questão envolve as cúpulas do mundo dos esportes e da política, setores quase sempre permeados de interesses camuflados, muitos deles surpreendentes e imponderáveis.
Nesta altura dos acontecimentos, lamentos são descabidos. Nenhuma ação contundente, social ou política, foi criada como tentativa de impedir que o país assumisse projeto de tal grandeza.
A letargia frente a esse compromisso, reivindicado diante da comunidade internacional pelo Brasil, leia-se governos e dirigentes esportivos, tem um preço a ser pago.
Resta a possibilidade de mobilização, com bom senso e sabedoria, para evitar interferência externa nas decisões olímpicas internas do Brasil e para impedir também desmandos, como os de ordem econômica, que pesam forte no bolso dos contribuintes.
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