Jornalista esportivo desde 1971, escreve sobre temas olímpicos. Participou da cobertura de seis Olimpíadas e quatro Pan-Americanos. Escreve às terças.
Pacote olímpico e Rio-2016 fecham o ano
O Comitê Olímpico Internacional planejou fechar o ano com a aprovação de medidas de fortalecimento e modernização do esporte em sua assembleia extraordinária, na semana que vem, em Mônaco. Está tudo praticamente acertado, após debates desenvolvidos nos últimos tempos. Antes, a partir de sexta, tem encontro de executivos do COI.
As medidas integram um enorme pacote denominado Agenda 2020, com quarenta propostas de alterações que abrangem, entre outras coisas, a escolha de sedes olímpicas, programa de esportes nos Jogos, criação de canal olímpico de TV e até a possibilidade de uma mesma Olimpíada ser realizada em mais de uma sede, praticamente impensável até os dias de hoje.
A Agenda e seus principais pontos já foram abordados neste espaço. Agora, quando a cartolagem mundial vai a um encontro para chancelar tais medidas, o Brasil, sede da Olimpíada, também estará lá para responder questões pertinentes ao evento de 2016, no Rio.
Não deve levar apenas notícias boas sobre os Jogos, mesmo que ruins para o país, como a estiagem, que ameaça a população com a falta de água, mas permite o andamento das obras sem interferência das chuvas.
Há outras questões polêmicas, que circulam como pavorosas assombrações pelos cantos do comitê Rio 2016, responsável pela organização dos Jogos, e da prefeitura do Rio, compromissada com obras ligadas diretamente ao evento.
A poluição das águas da baía da Guanabara, por exemplo, é problema que dificilmente encontrará solução ideal até a abertura dos Jogos. Virou um ponto vulnerável da organização em momentos de pressão criados pelos agentes internacionais do movimento olímpico.
Outro alvo sensível às críticas é a obra do campo de golfe em Jacarepaguá, que corre o risco de sofrer paralisação, pois está em desacordo com conceitos de ambientalistas e com análise do Ministério Público.
É praticamente certo que as federações internacionais dos 28 esportes programados para os Jogos solicitarão relatos dos brasileiros sobre o andamento dos preparativos do evento, cada qual voltado aos interesses da sua área.
Uma questão embaraçosa pode ser observada nos bastidores da natação. O estopim para o desencontro foi uma proposta sobre mudanças nos horários de provas da modalidade para as 22h (horário do Rio de Janeiro), com a intenção de atender interesses da televisão dos Estados Unidos.
Cartolas australianos não aceitam a novidade e devem pressionar para alterar o cronograma já rascunhado com as alterações. Eles reivindicam o início mais cedo das etapas noturnas.
Essa discussão coloca frente a frente na mesa de negociações o COI, que assinou o acordo de direitos de imagem com a TV, a Fina (Federação Internacional de Natação), articuladora dos torneios olímpicos, o comitê organizador e os dirigentes em geral da modalidade.
A tendência da Fina, que é a parte forte nessa disputa, seria acolher o horário mais tardio. Negociações estão em andamento, e os australianos seguem esperançosos de serem atendidos, mesmo sabendo do desfecho de caso semelhante ocorrido em Pequim-2008. Naquela oportunidade, apesar de críticas de atletas, as finais aconteceram no período da manhã, coincidindo com horário nobre da TV nos EUA.
Cada esporte puxa a brasa para a sua sardinha. O atletismo, por sua vez, achou interessante garantir máxima visibilidade em todos os fuso-horários. Aceitou sugestão do Comitê Rio 2016 e do Serviço de Transmissão Olímpico, abrindo espaço na sua grade, com a programação de 13 finais pela manhã.
Tudo indica que, para o COI, o final do ano será de festa, com a aprovação do pacote. Já o Comitê Rio-2016 corre o risco de ser pressionado ou levar alguma pedrada. Com canteiro de obras aberto, e sem tempo a perder, é alvo apetitoso numa confraria de cartolas.
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