Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Edgard Alves

No mundo dos esportes, todos os olhos estarão voltados à Rússia e aos russos, em 2018. A começar por fevereiro, quando mais de 80 países –mesmo a Rússia fora desse grupo e apenas parte dos seus atletas dentro– participarão dos Jogos Olímpicos de Inverno, em PyeongChang, na Coreia do Sul. E depois, em meados do ano, com o espetáculo das 32 seleções no Mundial de futebol em cidades russas.

Na Olimpíada da neve, a Rússia desponta como vilã. Foi banida do evento pelo COI (Comitê Olímpico Internacional) por embustes de doping com participação estatal. Praticou jogo sujo, injusto e repugnante.

Banditismo sem precedentes, embora nessa questão nenhum outro país tenha recebido atenção semelhante à dispensada aos russos. Não tivesse ocorrido tal discriminação, talvez a sujeira ultrapassasse as dimensões de um mero lixo caseiro para o de um verdadeiro aterro sanitário mundial dentro das fronteiras do esporte.

Os russos tiveram as suas patifarias escancaradas, deixando à mostra entranhas esportivas criminosas. Apesar disso, seus atletas limpos poderão competir em PyeongChang sob uma bandeira neutra e desde que cumpram uma série de requisitos.

Atrairão assim uma nuvem de curiosidades, passando à condição de atração especial. Em contrapartida, do ponto de vista técnico-esportivo, é provável que terão perdas no apronto para a competição.

Os últimos Jogos Olímpicos de Inverno ocorreram sob os auspícios da Rússia, em Sochi-2014. Naquela oportunidade, os anfitriões lideraram o quadro de medalhas. Aos poucos estão perdendo várias delas, cassadas por uso de doping, comprovado pela descoberta das patifarias e por exames laboratoriais refeitos em novas condições.

A empolgação da Rússia com Sochi foi tão grande na época que o governo de Vladimir Putin não titubeou em gastar US$ 51 bilhões na sua organização. Os russos reagem às acusações sobre as irregularidades, apontando que as mesmas fazem parte de uma campanha visando expulsar o país do esporte mundial.

Cada um puxa a sardinha para o seu prato. Do outro lado do balcão, o presidente do COI, o alemão Thomas Bach, classifica a punição como um marco e define a escalada russa de doping como um ataque sem precedentes à integridade dos Jogos e do esporte.

A Fifa (Federação Internacional de Futebol), por sua vez, procura desviar da polêmica sobre doping, evitando menções que possam relacionar o assunto ao Mundial de futebol, seu principal produto. A Copa-2014, no Brasil, fechou com US$ 2,6 bilhões positivos, de acordo com balanço financeiro da entidade.

As Copas são verdadeiros tesouros da Fifa. Por isso, o seu presidente, o suíço Gianni Infantino, prefere comentários menos importantes e mais subjetivos ao tratar de assuntos relacionados ao Mundial, como dizer que está convencido que a competição da Rússia será a melhor da história. É comportamento padrão dos dirigentes esportivos.

No embate da cartolagem esportiva por caminhos ditos do bem por alguns e do mal por outros, no ano que vem o foco ficará sobre a Rússia. O mesmo pedaço do planeta que 100 anos atrás também despertou curiosidades quando os bolcheviques assumiram o poder. Na verdade, de lá para cá, a Rússia nunca mais saiu da mira mundo afora.

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