Edgard Alves

Jornalista, participou da cobertura de sete Olimpíadas e quatro Pan-Americanos.

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Antes de Olimpíada, Coreias voltam ao tabuleiro dos jogos de guerra

Crédito: Costas Baltas/Reuters A atriz grega Katerina Lehou acende a tocha da Olimpíada de Inverno de Pyeongchang em Atenas
A atriz grega Katerina Lehou acende a tocha da Olimpíada de Inverno de Pyeongchang em Atenas

Sob o manto das disputas esportivas, as Olimpíadas pregam a confraternização entre os povos, a harmonia global. À sua maneira deixam sempre exposto um palco para debates sobre a paz mundial. Esse mesmo espírito transforma o movimento olímpico internacional numa simbologia política de expressão, supostamente neutra, e com autoridade de peso.

Dessa forma acaba sendo agente de debates sobre conflitos do momento. Portanto, não soa estranha a reaproximação entre as Coreias nesta pré-etapa da Olimpíada de Inverno, prevista para fevereiro, em PyeongChang, na Coreia do Sul. A Coreia do Norte anunciou que enviará uma delegação aos Jogos.

A divisão do território da Coreia resultou da guerra de 1950 a 1953, encerrada com um armistício. O Norte tinha o apoio da China e da então União Soviética, e o Sul de aliados como EUA e Reino Unido.

Ressalte-se que os eventos esportivos em geral são espaços generosos para a divulgação de políticas de grande visibilidade, especialmente por contar com participação de todas as mídias e dos principais grupos de comunicação do mundo. Atrelados às competições propriamente ditas, caminham negócios, comércio, política e geopolítica.

Olimpíadas (de inverno e de verão) envolvem representações de todos os cantos do mundo. São os mais destacados eventos esportivos internacionais, ao lado da Copa do Mundo de futebol.

Integrado por 206 representações nacionais, o COI (Comitê Olímpico Internacional), responsável pelos Jogos Olímpicos, desfruta de muito prestígio e se mantém como algodão entre cristais nas relações internacionais.

O uso político das Olimpíadas, no entanto, marcou várias das suas edições da Era Moderna, iniciada com os Jogos em Atenas, na Grécia, em 1896. Um exemplo claro foi Berlim-1936, quando Adolf Hitler aproveitou os Jogos na Alemanha para propaganda do nazismo.

Houve interrupção do evento durante as Grandes Guerras Mundiais (1914-18 e 1939-45). Após a Segunda Guerra, Londres, que havia resistido bravamente aos bombardeios dos nazistas, recebeu os Jogos em 1948. Mostrou que o país estava em pé.

Na sequência, a Guerra Fria passou a deixar suas digitais nos Jogos, embate que marcou praticamente quatro décadas. O momento mais agudo foi o boicote liderado pelos Estados Unidos e seus aliados a Moscou-1980, que teve réplica da então União Soviética e aliados a Los Angeles-1984.

O COI se deparou com inúmeros episódios políticos, mas o do ataque terrorista palestino que tirou a vida de 11 integrantes da delegação de Israel, em Munique-1972, assombrou o mundo e provocou muita tensão.

Há incontáveis fatos marcantes. Quem não se lembra da imagem dos atletas norte-americanos negros Tommie Smith e John Carlos no pódio na Cidade do México-1968, com luvas escuras e punhos erguidos, em protesto antirracista?

Teve ainda a retirada voluntária da China do movimento olímpico. Os chineses saíram em 1952 e retornaram em Los Angeles-1984. Gostaram da festa. Tanto que promoveram os Jogos de Verão em Pequim-2008 e serão novamente anfitriões em 2022 dos Jogos de Inverno.

Em Tóquio-1964, além da oportunidade de o Japão mostrar sua recuperação dos destroços e fracasso na Segunda Guerra, um gesto simbólico marcou o evento: Ioshinori Sakai, nascido numa aldeia próxima a Hiroshima, no dia da explosão da bomba nuclear naquela cidade, acendeu a pira olímpica.

Outro episódio marcante ocorreu em Montréal-1976, protagonizado por 28 nações africanas que se ausentaram em protesto contra a Nova Zelândia que meses antes havia permitido uma viagem de sua equipe de rúgbi pela África do Sul, que mantinha sua política segregacionista.

A Rússia coleciona polêmicas com repercussão nos Jogos. A última delas, na Olimpíada de Inverno de Sochi-2014, que patrocinou a custos astronômicos de aproximadamente US$ 51 bilhões.

Lá, segundo ficou apurado por órgãos competentes, com participação estatal, burlou as normas antidoping. Uma patifaria que resultou no veto ao país nestes Jogos em PyeongChang. O COI abriu as portas para atletas russos, mas eles atuarão sob a bandeira olímpica.

No Rio, em 2016, a Olimpíada teve a sua pincelada política com a estreia da equipe de refugiados, sob bandeira do COI. Eles tinham deixado seus países devido às guerras e crises humanitárias.

A iniciativa foi um alerta para a questão dos refugiados. Ponto para os Jogos do Rio, um consolo pelo escândalo revelado posteriormente da compra de votos para que a cidade abrigasse o evento.

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