Eduardo Sodré

Jornalista especializado no setor automotivo.

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Etanol tem tudo para substituir o petróleo na mobilidade limpa

Crédito: Silva Junior/Folhapress Frentista abastece carro em posto de gasolina
Frentista abastece carro em posto de gasolina

A indústria automotiva nacional chega ao ponto em que precisa definir se o etanol será o símbolo do desenvolvimento ou do atraso.

No momento em que a eletrificação é a principal tendência no setor, com montadoras anunciando investimentos pesados em tecnologias limpas, o combustível de origem vegetal tem o potencial de substituir os derivados de petróleo em diversas aplicações.

Conciliado a sistemas híbridos ou a pilhas de combustível que processam hidrogênio e não emitem poluentes, o etanol garantirá maior autonomia a carros não poluentes em uma cadeia limpa de produção.

São planos e projetos de médio e longo prazos, que podem ser exportados e até gerar demanda pelo álcool de cana brasileiro ou por veículos feitos aqui. Nissan e Toyota têm planos avançados nessa área.

Por outro lado, insistir no etanol apenas como combustível final, sem conciliá-lo a alternativas limpas, pode ser a repetição de um erro comum a outros planos de incentivo à indústria local.

O país torna-se uma ilha com produtos defasados, restritos ao consumo interno e às exportações a países igualmente rasos na demanda por novas tecnologias.

Foi assim na década de 1950, quando parte dos primeiros carros nacionais derivava de projetos antigos. Era algo justificável à época, mas o crescimento do mercado não foi devidamente acompanhado pela evolução dos produtos.

Algo pior ocorreu na década de 1980, com a lei de reserva de mercado de informática, que atrasou em anos a chegada de sistemas de injeção eletrônica de combustível ao mercado nacional.

A indústria tem pela frente dois ciclos completos de produtos até que possíveis acordos comerciais entre o Mercosul e a União Europeia sejam plenamente aplicados. Pelos cálculos de representantes das montadoras, a implementação do livre comércio só ocorreria em um prazo de 12 a 15 anos.

O período coincide com a chegada em maior volume dos carros eletrificados às ruas europeias e também com o fim do programa Rota 2030, que nem sequer teve suas bases divulgadas pelo governo.

Caso a indústria automotiva nacional consiga se alinhar às matrizes e oferecer seu conhecimento sobre etanol, haverá condições de exportar produtos e tecnologias.

Mas, se ficar presa ao modelo de hoje, focado no protecionismo à produção local, corre o risco de ver aprofundado o abismo entre carros aqui produzidos e os que serão demandados por grandes mercados, além de agravar o esvaziamento da engenharia local.

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