Saltar para o conteúdo principal

Publicidade

Publicidade

 
 

eliane cantanhêde

 

19/06/2012 - 19h08

Pós-indignação de 1min35

O Brasil passou pela pré-indignação na década de 1980, quando resistiu à candidatura de Paulo Maluf à Presidência da República e preparou o terreno para o impeachment de Fernando Collor.

O mesmo Brasil viveu uma longa fase de indignação, com os caras pintadas, a CPI dos Anões do Orçamento, as cassações e a prisão de políticos corruptos, a queda do juiz Lalau e do senador Luiz Estêvão, os casos dos mensaleiros, dos aloprados e dos cuequeiros.

Pois, agora, concluído o ciclo desde a direita até a esquerda no poder, o Brasil chega à fase da pós-indignação: nada mais surpreende, nada mais choca, nada mais enoja.

A sensação é de que todos são iguais e tanto faz se Maluf, antigo inimigo número um da Nação, faz aliança com o PSDB ou com o PT para a eleição da principal capital do país.

Tucanos e petistas, atire a primeira pedra quem de vocês é contra o convescote de Lula com Maluf --nos jardins da casa do próprio Maluf, o que adiciona um dado particularmente estarrecedor a tudo isso. Uma foto para a história. A foto do vale-tudo pelo poder.

Se nem um lado nem o outro pode atirar pedras, atiremos nós, cidadãos e eleitores.

Está errado colocar a questão sob o ângulo partidário, programático ou ideológico. O problema de Maluf não é ser de direita --cada um que tenha sua ideologia--, mas sim as suas contas bancárias e a sua folha corrida, ambas longuíssimas, tanto nacional quanto internacionalmente.

Maluf é um velho conhecido da Interpol, da Polícia Federal, do Ministério Público, do Coaf (que analisa movimentações financeiras), dos paraísos fiscais mundo afora. Aliás, ele e boa parte de sua família.

Aliança com Maluf --e não no segundo, mas já no primeiro turno-- é aceitar tudo o que ele representa como natural, como aceitável, como bem vindo, como detalhe.

Será esse o papel de Lula para a história?

Jorge Bornhausen, Guilherme Palmeira e Marco Maciel criaram a dissidência do PDS (que apoiava a ditadura militar) e em seguida apoiaram Tancredo Neves e fundaram o PFL (hoje DEM) por não admitirem Maluf e o que ele representava.

O movimento deles era como um grito de guerra: "De direita, sim, mas bandidos, não". Depois de todo o terreno aplainado, José Sarney aderiu. Só depois da casa construída, Antonio Carlos Magalhães, o ACM, pulou dentro.

Ironia da história: 27 anos depois do "não" de Bornhausen, Palmeira e Maciel a Maluf, são o PT e Lula que dizem alegremente "sim" a ele, em troca de 1min35 a mais na TV, o preço da moralidade.

Até o pragmatismo tem limite. Ou deveria ter.

eliane cantanhêde

Eliane Cantanhêde, jornalista, é colunista da Página 2 da versão impressa da Folha, onde escreve às terças, quintas, sextas e domingos. É também comentarista do telejornal 'GloboNews em Pauta' e da Rádio Metrópole da Bahia.

 

As Últimas que Você não Leu

  1.  

Publicidade

Publicidade

Publicidade

Publicidade


Voltar ao topo da página