Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.
O galinheiro de ovos Fabergé
Numa de suas operações espetaculosas, a Polícia Federal apreendeu na casa de Eike Batista um ovo do joalheiro Fabergé, o queridinho dos czares russos. Valeria R$ 2 milhões e revelou-se uma cópia barata, daquelas que se compram no eBay por R$ 60.
Cão danado, todos a ele. Essa seria mais um prova das mistificações megalomaníacas do empresário. Problema: Não há registro de que Eike tenha dito que aquele ovo era verdadeiro. Era apenas um momento de sonho. Uma pessoa poderia acreditar que ele tinha um Fabergé e sua vida não pioraria. Ferraram-se aqueles que acreditaram no seu império de portos, minas e campos de petróleo. Os Fabergés de R$ 60, bem como os pinguins de geladeira e as reproduções da Mona Lisa não fazem mal a ninguém.
O problema é outro, quando se acredita em grandes lorotas empacotadas pela sabedoria de governantes e opiniões de sábios. Eike Batista foi uma delas, mas há outras.
Veja-se o caso do que se chama de polo da industria naval. Nos últimos 60 anos, os contribuintes brasileiros patrocinaram outros dois. A ideia é banal. Assim como sucedeu com a industria automobilística, o Brasil poderia produzir navios. Primeiro veio o polo de Juscelino Kubitschek. Quebrou. Depois veio o da ditadura. Também quebrou. Com uma diferença: nele, os maganos transformaram seus papéis micados em moedas da privataria.
Assim, um banqueiro que poderia ter quebrado investindo em estaleiros trocou o papelório pelo valor de face e comprou a Embraer.
Agora está aí o polo do Lula, com suas petrorroubalheiras. Nenhum dos três polos navais deu certo porque, ao contrário dos projetos similares do Japão, Coreia e Singapura, no Brasil não se respeitaram metas, prazos ou custos.
Uma pessoa pode ter um Fabergé de R$ 60 em casa, mas jamais acreditará que, pelo tempos afora, se poderão produzir navios que custam mais caro que os do mercado internacional.
Tome-se outro exemplo, noutra área.
O governo criou o programa Financiamento Estudantil, o Fies. Grande ideia: financia jovens que entram para universidades privadas, como se faz pelo mundo. Mexe pra cá, mexe pra lá, os empréstimos passaram a ser tomados sem fiador, a juros de 3,4% ao ano e entra quem pede. A Viúva paga, e os donos das escolas recebem o dinheiro na boca do caixa.
Uma beleza, o comissariado petista estatizou o financiamento das universidades privadas. Uma faculdade de São Caetano do Sul tinha 27 alunos em 2010, todos pagando suas mensalidades.
Hoje tem 1.272, e só quatro pagam do próprio bolso. Essa conta está hoje em R$ 13,4 bilhões.
O governo propôs duas mudanças singelas: só terão acesso ao Fies os jovens que tiverem conseguido 450 pontos no exame do Enem e as faculdades com bom desempenho. Sucedeu-se uma gritaria. Os repórteres José Roberto de Toledo, Paulo Saldaña e Rodrigo Burgarelli informam que, entre 2012 e 2013, o número de estudantes diplomados do setor público cresceu 2%, enquanto no setor privado caiu 7%. Já a evasão dos estudantes beneficiados pelo Fies cresceu 88%.
Pergunta óbvia: um garoto que abandonou a faculdade vai devolver o empréstimo que tomou sem fiador? Resposta, também óbvia: para o dono da escola, não faz diferença, pois ele já recebeu o dinheiro da Viúva e sabe mexer seus pauzinhos no governo, o grande galinheiro de ovos Fabergé.
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