Nascido na Itália, veio ainda criança para o Brasil, onde fez sua carreira jornalística. Recebeu o prêmio de melhor ensaio da ABL em 2003 por 'As Ilusões Armadas'. Escreve às quartas-feiras e domingos.
Lances de soberba de Moro ajudam os adversários da Lava Jato
Eduardo Anizelli/Folhapress | ||
Juiz Sergio Moro, responsável pela Operação Lava Jato |
Na solene e medonha rotunda da Universidade Columbia, em Nova York, o juiz Sergio Moro explicou sua estrondosa decisão de liberar o grampo de um telefonema de Dilma Rousseff para Lula, em março do ano passado. Os dois trataram da blindagem de Nosso Guia que havia sido nomeado chefe da Casa Civil.
O efeito da divulgação do áudio foi devastador. Contudo, havia um problema. Às 11h12, Moro determinara o fim da escuta do telefone de Lula e a conversa ocorreu às 13h32. Ainda assim, foi transcrita e anexada aos autos da Polícia Federal às 15h37.
Falando para uma plateia relativamente leiga, Moro explicou sua conduta: "Nossa decisão foi a de não esconder nenhuma evidência nesses casos". Meia verdade. Sua decisão foi a de expor uma tramoia na qual Dilma blindava Lula, mas a prova que usou era ilegal.
Confrontado à época, Moro disse que a questão dos horários não tinha relevância, porque as companhias telefônicas ainda não haviam sido notificadas. Conversa para boi dormir. Ele é que não deveria ter anexado o grampo feito fora do prazo legal.
Foi um golpe de mestre, mas custou a Moro uma repreensão vinda do ministro Teori Zavascki: "Não há como conceber a divulgação das conversações do modo como se operou".
Explicando-se, Moro disse o seguinte: "Compreendo que o entendimento então adotado possa ser considerado incorreto, ou mesmo sendo correto, possa ter trazido polêmicas e constrangimentos desnecessários. Jamais foi a intenção desse julgador (...) provocar tais efeitos e, por eles, solicito desde logo respeitosas escusas a este egrégio Superior Tribunal Federal".
Teori foi bonzinho aceitando esse pedido acrobático de desculpas, mas não passaria pela cabeça de Moro dizer ao Supremo o que disse em Nova York.
Lances de soberba ajudam os adversários da Lava Jato. Afinal de contas, o ladrão sabe que é ladrão, o que ele precisa é que o policial faça uma besteira.
É o caso de se repetir: pode-se fazer tudo por Moro e pela Lava Jato, menos papel de bobo.
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