É jornalista com mestrado em Economia Política Internacional no Reino Unido. Venceu os prêmios Esso, CNI e Citigroup. Mãe de três meninos, escreve sobre educação, às quartas.
A estagnação secular
"Esta é a essência da estagnação secular -recuperações doentes que morrem em sua infância e depressões que se autoalimentam e deixam um duro e aparentemente imóvel núcleo de desemprego."
O conceito foi cunhado, na década de 1930, por Alvin Hansen, que previa tempos difíceis para a economia norte-americana após a Grande Depressão.
O economista errou feio. Suas preocupações foram eclipsadas pela pujança da economia dos Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial.
Oito décadas depois, alguns acadêmicos proeminentes acham que, se não teve grande serventia no passado, a "estagnação secular" de Hansen define bem o cenário atual de perspectivas desanimadoras para a economia global.
Lawrence Summers, ex-secretário do Tesouro norte-americano, foi o primeiro a ressuscitar o termo em 2013, apontando "a estagnação secular" como uma possibilidade.
Recentemente, o acadêmico passou a dizer que se trata de uma probabilidade. Para ele, as economias industrializadas tiveram mudanças que tornaram as pessoas mais dispostas a poupar e menos propensas a investir e consumir.
O resultado é um crescimento decepcionante por muitos anos, com retomadas frágeis e alto risco de novas recessões.
Summers diz que as origens desse fenômeno ainda não são totalmente conhecidas, mas o envelhecimento da população seria uma delas.
Ainda que analisem o fenômeno de forma diferente, outros economistas veem cenário de baixa expansão crônica. Robert Gordon, acadêmico americano, fala sobre isso não é de hoje. Desde a crise de 2008, tem sido mais ouvido.
Para ele, a economia dos EUA perdeu dinamismo e a revolução da informação não trouxe ganhos de eficiência suficientes para reanimá-la.
Ninguém garante que, assim como Hansen no século passado, Summers, Gordon e outros não estejam errados agora. Mas as evidências dos últimos anos não são animadoras.
Projeções de crescimento global têm sido reduzidas ano após ano para se ajustar à realidade. Em abril de 2014, o FMI projetava expansão mundial de 4% para 2016. Hoje, espera 3,4%. Por isso, a tese da "estagnação secular" ganha força.
O cenário é desafiador para todos, mas particularmente para o Brasil, devido à severidade de nossa crise doméstica.
Uma das esperanças do país era que, movidas a câmbio desvalorizado, as exportações fossem o principal motor da recuperação. Até podem vir a ser, mas, com expansão fraca, o resto do mundo tende a importar menos, limitando o potencial de retomada por essa via.
Restam medidas conhecidas -reforma da Previdência, redução da burocracia- que o país vem adiando há tempos, mas das quais dependerá se quiser sair do atoleiro.
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