É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.
O exemplo de Toronto
Escrevo esta coluna do Princes' Boulevard, em Toronto, em um pavilhão improvisado como centro de imprensa dos Jogos Pan-Americanos.
Exatamente nesta avenida, há menos de um mês, o cenário era outro. Havia arquibancadas móveis. Havia caminhões estacionados. Havia motorhomes montados. Havia público, muito público. Havia cheiro de gasolina e de borracha queimada.
No dia 14 de junho, o Princes' Boulevard era a reta de chegada do circuito de Toronto, décima etapa da temporada 2015 da Indy. Foi a 29ª edição da corrida no Exhibition Place, uma área próxima ao centro de Toronto utilizada como centro de exposições desde 1878.
A primeira prova foi em 1986, com vitória de Rahal. Emerson venceu no ano seguinte. O vencedor em 88 foi Unser Jr. E por aí vai.
Há 26 dias, o americano Newgarden venceu pela primeira vez no circuito, numa prova acidentada e agitada, que começou com pista molhada.
Sou capaz de apostar que muitos estrangeiros que passarão por aqui nos próximos dias não terão a mínima ideia de que este local é, também, uma pista de corrida.
Não dá para não pensar com o que fizeram com Jacarepaguá.
Foi justamente um Pan-Americano, há oito anos, que começou a sepultar um dos melhores circuitos do planeta.
Até hoje é difícil acreditar. A zona oeste do Rio, que compreende Barra, Jacarepaguá e Recreio dos Bandeirantes, é repleta de áreas vazias, matagais, terrenos baldios. Oito anos de ocupação imobiliária atrás, mais ainda.
Mas não. Para realizar um evento esportivo, a então Prefeitura do Rio, comandada por Cesar Maia, concordou com o plano do COB de destruir... uma instalação esportiva!
Deixaram um arremedo de circuito, um traçado perigoso, como que com a intenção de provocar uma tragédia e obter a justificativa perfeita para fechar tudo.
Houve várias provas de categorias nacionais por lá, e felizmente ninguém morreu. Mas mesmo assim fecharam tudo, desta vez com a desculpa da organização dos Jogos Olímpicos.
Ah, claro. A prefeitura do Rio, já com Eduardo Paes, manteve a promessa da gestão anterior da construção de um novo autódromo, em Deodoro.
Não saiu do papel. Acredito que nunca vai sair. A burocracia é enorme, e a vontade política é mínima.
Se o Rio de Janeiro tivesse alguma vontade de contar com um autódromo, não teria destruído Jacarepaguá. Teria dado um jeito. Toronto deu.
E o que dizer de Sochi? No ano passado, o mesmo local da mesma cidade russa recebeu os Jogos Olímpicos de Inverno e um GP de F-1.
De duas, uma.
Ou somos incapazes, ou somos mal-intencionados.
(Sou daqueles idiotas que acreditam que não somos menos capazes do que ninguém.)
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