É jornalista com mestrado em Administração Esportiva pela London Metropolitan University, da Inglaterra.
Sol nascente
Os indícios começaram na pré-temporada e foram matéria-prima para uma coluna, neste mesmo espaço, batizada "Sol poente".
Naquele 27 de fevereiro, duas semanas antes de os carros chegarem à Austrália para a primeira etapa do Mundial, questionei a capacidade da Honda em voltar a ser competitiva na F-1.
Não me referia apenas à falta de quilometragem nos testes –foi a equipe que menos andou–, mas também às últimas investidas dos japoneses na categoria.
Noves fora o rastro de afeto que deixou nos anos 60 e o estrondoso sucesso com Williams e McLaren nos anos 80 e 90, todas as outras iniciativas da Honda na F-1 deram em nada.
O maior vexame foi o erro estratégico da venda da estrutura em Brackley para Brawn.
"Foi um fiasco. Com direito a uma crueldade do destino. Fartos de dar murro em ponta de faca, os japoneses saíram de cena em 2008. Deixaram pronto um carro para o ano seguinte: revolucionário e campeão, mas ostentando o nome Brawn GP. Mais: sua equipe satélite, a Super Aguri, durou só 39 GPs", dizia a coluna.
O erro ganha contornos mais graves quando lembramos que a Mercedes sucedeu a Brawn.
Em suma: a Honda já teve em mãos a estrutura da equipe que hoje domina o esporte. Jogou-a fora por falta de paciência.
As suspeitas de que 2015 seria complicado para os japoneses se confirmaram de maneira tenebrosa. A McLaren-Honda terminou o Mundial de Construtores com apenas 27 pontos, na penúltima posição.
Volto ao tema porque, apesar de tudo isso, parece haver uma luz no fim do túnel.
Não é apenas chute.
Quando um sujeito megacompetitivo como Alonso volta atrás da decisão de tirar um ano sabático, é porque algo aconteceu.
Quando Button concede entrevistas dizendo que tinha a opção de parar em 2016, mas resolveu ficar, é sinal de que viu perspectivas naquele cockpit.
Quando um time orgulhoso como a McLaren resolve se calar diante dos seguidos abandonos, vale a pena esperar alguma surpresa.
Não seria fácil para nenhuma montadora, todos sabíamos, entrar na F-1 das "unidades de potência" um ano depois das demais.
Talvez não esperássemos que seria tão difícil.
Fato é que 2015 agora ficou para trás. Aos trancos e barrancos, a McLaren e a Honda coletaram dados por mais de 20 mil quilômetros ao longo da temporada.
Não será em 2016 que Button e Alonso voltarão a disputar pole positions ou a lutar por vitórias. Esqueçam.
Mas duvido que o fiasco se repita. Há uma nítida sensação de renascimento no ar.
Os japoneses nunca estiveram para brincadeira.
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