É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.
Lula, cachaça e tapete grosso
Um velho cientista político que conhece o PT como poucos comentava que vai ser difícil tentar tirar, uma vez já instalados, os companheiros do poder.
Dizia ele, com preconceito e sarcasmo, que esse pessoal que tomava cachaça e comia linguiça nos anos 70 no ABC paulista agora se acostumou aos "tapetes grossos" de palácios e ministérios.
Isso também serve para tucanos e baianos.
Imagine-se quantas famílias sobreviveram, filhos foram criados e propriedades compradas pelos políticos e servidores que vivem do dinheiro de feudos no Brasil.
Os tucanos estão há quase duas décadas em São Paulo. O Carlismo de ACM dominou a Bahia por 40 anos. E o "choque de gestão" de Aécio Neves mantém o pessoal dele agarrado ao poder em Minas desde 2003.
Política no Brasil é um meio de vida para milhões de pessoas. É um projeto de ascensão social às custas da sociedade. Quem detém esse poder se agarra a ele como pode.
Suspeitas de superfaturamento na compra de trens e refinarias são apenas meios de financiar essa permanência.
Mas nada se compara ao governo federal, o ente mais poderoso da federação.
Só os cargos de livre nomeação no Executivo passaram de 17,6 mil para quase 23 mil desde que o PT assumiu a Presidência, em 2003. São usados para tudo: acomodar desde gente competente a parentes de políticos ou aliados que perderam sua boquinha em outro lugar.
Sem falar num Orçamento de R$ 2,4 trilhões anuais, que controla tudo e a todos, dos gastos do Bolsa Família e Previdência às transferências a Estados e municípios.
Com Dilma caindo nas pesquisas e cada vez mais isolada, Lula está deixando a porta aberta para a sua volta, se necessário.
Como qualquer outro em seu lugar, depois de 12 anos no poder os petistas não vão arriscar perder esse meio de vida por nada.
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