É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.
"Lula, sai do chão!"
O ex-presidente Lula ameaçou no Rio chamar o "exército do Stédile" contra manifestações pró impeachment da presidente Dilma. Como a que acabou em confronto com petistas que faziam ato em defesa da Petrobras na terça (24).
"Lula, sai do chão, o petróleo é do povão", gritavam os petistas. O ex-presidente respondeu que "defender a Petrobras é defender o que é nosso". E que há uma "criminalização da ascensão social no Brasil. As pessoas subiram um degrau e isso incomoda a elite".
É a volta do discurso do "eles contra nós". Só que as "pessoas", agora, estão descendo um degrau.
Lula foi um dos presidentes mais bem sucedidos e intuitivos do Brasil. Assumiu um país quebrado, devendo US$ 30 bilhões ao FMI e com inflação anual e taxa de desemprego de dois dígitos. Rapidamente, sob a tutela do FMI, um "boom" de preços de commodities e com políticas pró mercado, tirou o país da crise e desencadeou um longo ciclo de inclusão social.
Sua criatura, Dilma, encontrou um ambiente externo mais adverso, mas a casa arrumada. Até adotar sua "nova matriz econômica" (intervencionismo em uma economia globalizada) que nos trouxe ao momento atual.
O ajuste de Dilma será mais doloroso do que o de Lula. Não haverá "boom" de commodities, a economia global segue fraca e o governo terá de cortar fundo depois de manter gastos irrealistas para ganhar a eleição do ano passado.
Mas, especialmente, porque a inflação está elevada e vai rapidamente corroer a renda dos novos incluídos. E dificilmente Dilma conseguirá trazer a inflação para baixo sem um importante aumento do desemprego.
Neste ano, preços administrados e de tarifas devem subir 10%: serviços (domésticos, cabeleireiro etc.), cerca de 8%; e "outros" (bens de consumo, vestuário etc.), em torno de 6%. Projeções indicam a inflação em torno de 7,5% em 2015 (1 ponto acima do teto da meta).
Sem uma significativa queda no emprego, infelizmente, não há como a inflação ceder. Serviços e "outros" respondem por cerca de 2/3 do índice de inflação. Ou seja, será preciso que menos gente vá ao cabeleireiro e às lojas para que haja promoções e liquidações e os preços caiam.
O agravante é que boa parte do que é consumido hoje é importado ou, quando produzido aqui, leva componentes importados. A alta do dólar, de quase 10% neste ano, dificulta ainda mais a queda da inflação.
Tudo conspira para um arrocho importante sobre os mais pobres e recém incluídos no mercado de consumo. Nesta quinta (26), pela primeira vez em quase 13 anos, o número de empregos com carteira assinada no Brasil caiu.
A reclamação maior contra Dilma pode vir daí. Não da "elite" a que Lula se refere.
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