É repórter especial da Folha. Foi secretário de Redação, editor de política, do "Painel" e correspondente da Folha em NY e Washington. Vencedor de quatro prêmios Esso.
'Engraxado', Brasil ainda rateia no desemprego
"Graxa" é como economistas chamam o efeito que a inflação exerce sobre a renda dos trabalhadores em um ajuste macroeconômico como o atual.
A inflação achata a renda (R$ 1.000 viram o equivalente a R$ 900 se a inflação foi 10%) e leva a um aumento da produtividade dos trabalhadores. Eles passam a ganhar menos em termos reais para produzir o mesmo.
Isso leva à queda da inflação. Pois bens e serviços custam salários menores, que também compram menos produtos, obrigando empresas a conter reajustes.
Há, assim, uma espécie de "lubrificação" na economia.
Salários e preços voltam a um patamar mais equilibrado, sem que um fique correndo atrás do outro, alimentando o ciclo inflacionário.
Outra forma de diminuir a renda (e a inflação) é via desemprego, muito mais dolorosa. O sujeito perde o trabalho e deixa de receber.
Até o fim do segundo trimestre deste ano, o ajuste macroeconômico nesta crise poderia ser considerado "menos ruim", dado os desequilíbrios deixados por Dilma Rousseff.
No trimestre até junho, a renda real dos ocupados caiu 5,6% e o comércio encolheu algo parecido, o que mostra a importância da renda na economia.
Cerca de 75% dessa redução se deu pelo efeito da inflação, que corroeu os salários. Só 25% foram culpa do desemprego, que eliminou rendimentos.
A partir de agosto, a coisa mudou.
O desemprego passou a contribuir com mais da metade (55%) da queda na renda. Ou seja, o ajuste agora é preponderante em cima de quem perde o emprego.
A dúvida é se isso vai se agravar ou se haverá uma estabilização na perda da renda e dos empregos nos próximos meses.
Uma pista é que há uma desaceleração na velocidade de queda da renda. Se ela havia caído -5,6% no trimestre até junho, a redução passou a -3,7% nos três meses terminados em agosto.
A última grande crise brasileira se estendeu entre 1996 e 2003, até a passagem entre os governos FHC e Lula.
Além de bem mais longa que a atual, que ensaia leve recuperação, a crise daquele período fez a renda real desabar -16%.
A grande pergunta agora é se o "engraxamento" pela inflação bastou para equilibrar preços e salários ou a se a economia terá de perder muitas peças ainda, via desemprego, para operar mais azeitada.
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O quadro abaixo mostra em detalhes a atual situação da renda dos brasileiros. No gráfico, quanto ela caiu e a tendência de diminuição de velocidade da queda a partir de julho.16.
Nas barras, quem mais perdeu (jovens, chefes de família, menos escolarizados) e qual o peso da inflação na queda da renda de cada grupo.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
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