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fernando canzian

 

01/11/2010 - 05h30

Agora é Dilma

Com a exceção do "quebra-molas" que acabou levando a eleição presidencial para o segundo turno, a vitória de Dilma Rousseff foi conduzida com grande perícia pelo regente de todo o processo: o presidente Lula.

É até uma ironia que a imposição da segunda rodada tenha sido motivada, em alguma medida, pelo caso de Erenice Guerra na Casa Civil. Afinal, a escolha da sucessora-problema para o cargo foi obra de Dilma, não de Lula.

Não são poucas as vitórias obtidas pelo presidente ao fim do processo eleitoral e de quase oito anos de governo.
Nem desprezíveis, mas perfeitamente contornáveis, os riscos assumidos pelo governo na economia para que o presidente fizesse de "um poste" o seu sucessor.

Lula elegeu Dilma. PT e coligados, a maioria no Congresso. O presidente deve deixar o cargo como o mais bem avaliado no período pós redemocratização e é respeitado internacionalmente.

Há quase 25 anos o Brasil não crescia como deve crescer em 2010. Em oito anos, foram 15 milhões de empregos formais e, o mais significativo, 32 milhões de pessoas (quase meia França) ascenderam às classes A, B e C.

Isso é passado. Mas Lula também deixa perspectivas.

Na média de seus dois mandatos, o país terá crescido 4% ao ano. Se (e esse é um grande "se") Dilma conseguir puxar essa taxa para 5% ao ano, o Brasil poderá tirar mais 36 milhões da miséria até 2014 (completando a parte da "França" que falta).

Mas Lula e Dilma nunca deram o braço a torcer nem reconheceram as bases sobre as quais construíram as realizações que agora mantêm o PT na Presidência. O Plano Real de FHC foi apenas a primeira delas.

As privatizações e as concessões do governo anterior, que Serra escondeu na campanha, dinamizaram vários setores, como os de telecomunicações, mineração, gás e o do próprio petróleo.

Dilma foi eleita com um viés mais estatizante. No discurso eleitoral, a presidente eleita ficou mais à esquerda do que o próprio Lula.

O presidente é um convertido ao mercado desde 2002. Foi especialmente por meio do capital privado que ele turbinou a economia.

Basta lembrar que, até a crise de 2008/2009, a taxa de investimentos privados (que garantem o crescimento sem inflação) se aproximava de patamares inéditos.

Já o setor público, apesar de todo o discurso dilmista de "Estado forte", investe uma ninharia. Ao contrário, apenas gasta. E mal.

Ontem, após votar, Lula delineou seu papel a partir de 1º de janeiro: "Vou ter muitas tarefas. Mas a última coisa que eu quero é ter tarefas dentro do governo. No dia 1º eu desembarco. E ela [Dilma] continua tocando".

Portanto, agora é Dilma.

Não são injustificadas as apreensões de quem produz, investe e paga impostos com os rumos do gasto público após essa troca de comando.

fernando canzian

Fernando Canzian é repórter especial da Folha e editor do 'TV Folha', exibido aos domingos na TV Cultura (19h30 com reprise às 23h). Foi secretário de Redação, editor de política e do 'Painel' e correspondente da Folha em Nova York e Washington. Vencedor de dois prêmios Esso, é autor do livro 'Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929'.

 

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