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fernando canzian

 

15/08/2011 - 07h00

No buraco? Pare de cavar

A expressão acima ("When you're in a hole, stop digging") é o título do novo relatório sobre a economia global produzido pelo IIF (Institute of International Finance).

O IIF é a Febraban mundial. Faz o lobby de 400 bancos de mais de 70 países. É poderosíssimo. Seus membros estão entre os maiores financiadores de campanhas políticas no mundo.

O documento traz, basicamente, três queixas:

1) O desentendimento político nos EUA e na Europa sobre o endividamento público atraiu novas incertezas para o cenário global;

2) Ao contrário de 2008, falta cooperação entre os bancos centrais, agora mais ocupados em desvalorizar suas moedas (e aumentar exportações) do que em buscar saídas conjuntas, e;

3) Órgãos reguladores focaram demais em diminuir o poder de fogo dos bancos "no momento errado", quando o ciclo econômico é de baixa.

O sistema bancário global foi quem gerou a hecatombe financeira de 2008.

Alguns bancos chegaram a emprestar a mutuários e consumidores US$ 35 para cada US$ 1 que tinham em caixa. Ou seja, corriam no vazio.

Quando veio a crise, acompanhada de calotes gigantescos, os bancos não tinham como suportar os rombos. No jargão, faltou capital para cobrir perdas.

Ao tomar conhecimento desse nível de irresponsabilidade (e ao terem de resgatar os bancos), governos se indignaram. Como que dando satisfação à opinião pública, que pagaria a conta.

Vários países elaboraram medidas para restringir a audácia bancária. Por exemplo, cortar substancialmente o quanto se pode emprestar para cada US$ 1 em caixa.

Até agora, quase nada aconteceu.

O governo Barack Obama, que busca a reeleição (e financiamento para ela), praticamente não mexeu nesse vespeiro. Na Europa, o encaminhamento dado só escondeu os problemas.

Nos EUA, das 400 novas regras de regulamentação bancária do Dodd-Frank Act, só 15% foram finalizadas (dado do próprio IIF).

Dodd, Christopher Dodd, era presidente do Comitê de Bancos do Senado quando as mudanças foram negociadas. Por anos, ele teve o Bank of America entre seus principais financiadores de campanha.

Na Europa, os reguladores (apontados por políticos) realizaram em 2010 os chamados "testes de estresse" entre 90 grandes bancos (que respondem por quase 70% dos empréstimos).

O objetivo era medir a saúde deles. Se tivessem capital de menos (empréstimos demais para cada US$ 1 em caixa), seriam obrigados a levantar mais dinheiro, o que diminuiria seu poder de fogo.

Para surpresa de muitos, receberam um atestado de boa saúde.

Detalhe: passou longe dos "testes de estresse" o cenário (hoje bastante provável) de insolvência das dívidas de governos, que têm bancos europeus como grandes credores.

Só as dívidas soberanas de Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha (sem contar Itália) podem causar problemas equivalentes a US$ 1,5 trilhão aos bancos da Europa.

No entendimento do IIF, o "pare de cavar" significa o seguinte: os governos precisam se entender para continuar ajudando a combalida finança global. O comportamento atual só atrapalha.

É verdade. Mas o buraco é mais embaixo.

fernando canzian

Fernando Canzian é repórter especial da Folha e editor do 'TV Folha', exibido aos domingos na TV Cultura (19h30 com reprise às 23h). Foi secretário de Redação, editor de política e do 'Painel' e correspondente da Folha em Nova York e Washington. Vencedor de dois prêmios Esso, é autor do livro 'Desastre Global - Um ano na pior crise desde 1929'.

 

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