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francis pisani

 

10/06/2012 - 08h00

A Índia e o desafio do design

Componente essencial da inovação tecnológica desde Steven Jobs, o design está entre os mais importantes desafios estratégicos. O Vale do Silício o privilegia como parte de seu esforço para preservar sua vantagem diante dos simples "fabricantes". E o caso da Índia, mais que o do Brasil, parece confirmar sua importância.

Treinados em Bangalore, Mumbai, Déli ou Calcutá, os engenheiros e matemáticos indianos desfrutam de considerável reputação. Mas o mesmo não se aplica aos designers do país, cuja insuficiência começa a ser apontada como ponto fraco.

"Não é que nos faltem designers", aponta Poyny Bhatt, diretora da Society for Innovation and Entrepreneurship (Sine), uma incubadora ligada ao Instituto Indiano de Tecnologia -Bombaim, uma das mais prestigiosas escolas de engenharia indianas. "Mas devido à proliferação de companhias especializadas em engenharia e fabricação de produtos físicos, damos ênfase menor ao design".

"No passado era possível vender qualquer produto, mesmo que seu design fosse medíocre, desde que fosse funcional", me disse Kashan Kumar, presidente da divisão local da The Indus Entrepreneurs (TIE), uma organização fundada no Vale do Silício para fomentar os empreendedores indianos em todo o mundo, bancada com o dinheiro e a experiência de compatriotas que conquistaram sucesso. "Aos olhos da classe média, o design pode ser desejável mas não é imprescindível, porque se pode viver sem ele. E além disso ele custa mais caro. Arte é tradicionalmente coisa de rico".

"Não conheço muitos jovens que pensem em design como profissão", acrescenta Kumar. "Temos centenas de universidades que formam engenheiros e pouquíssimas que formam designers. As belas artes são vistas como hobby, e não como profissão", ele lamenta.

Para Mahesh Samat, ex-diretor executivo da Disney-India e hoje empresário no ramo do vinho (é dono de um vinhedo a 200 quilômetros de Mumbai), e autor de histórias em quadrinhos (já escreveu algumas). "O maio desafio para a Índia consiste na falta de respeito pelas artes. Cedo ou tarde nos arrependeremos por essa falta de criatividade original. Não pensamos de maneira diferente; para retormar a expressão da Apple, não pensamos 'out of the box'. A indústria cinematográfica estimula esse aspecto, distinto da engenharia, mas é o único âmbito no qual somos criativos".

"Os indianos estão apenas começando a se interessar por design", afirma Prem Chandarkavar, arquiteto que trabalha em Bangalore. "Antes da crise de 2008, o crescimento do nosso Produto Interno Bruto (PIB) era de 8% a 9% ao ano, e qualquer coisa que fabricássemos permitia ganhar dinheiro. O design e a inovação não eram indispensáveis. A insegurança nos obrigou a mudar, mas treinar profissionais de design não é algo que se consiga de um salto. É preciso cultivar esses talentos. É preciso tempo e reflexão". A indústria indiana já começou a enfrentar esse problema e "dentro de três anos as coisas serão diferentes", estima o arquiteto, capacitado a avaliar essa evolução porque a cada dia surgem mais solicitações de espaços projetados para estimular a inovação.

A consciência sobre o valor do design está crescendo onde quer que se vá. Um aspecto importante, se considerarmos que é mais fácil superar a defasagem nesse campo do que em outros.

Assim, Recife, tornada o terceiro polo tecnológico brasileiro graças à qualidade de seus engenheiros, hoje aposta nas "indústrias criativas". "Não nos centramos apenas na tecnologia", me disse Sílvio Meira, presidente do Centro de Estudos e Sistemas Avançados de Recife (CESAR). "Temos 40 designers e multiplicamos as equipes multidisciplinares". Para ele, como para Kumar da TIE, em Mumbai, o design é crucial para qualquer empresa desejosa de conquistar os mercados mundiais.

O CESAR colabora com designers indianos; o que aconteceria se a isso fossem acrescentados engenheiros indianos?

Tradução de PAULO MIGLIACCI

francis pisani

Francis Pisani viaja pelo mundo para descobrir o que está sendo feito de inovação tecnológica ao redor do planeta. Com longa experiência na cobertura da área, ele tenta, por exemplo, descobrir se a próxima Apple poderá aparecer na África, na Ásia ou na América Latina. Acompanhe o projeto em francês, espanhol e inglês.

 

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