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humberto luiz peron
Mano, Muricy, frases e seleção
HUMBERTO PERON
Colaboração para a FOLHA
Em 2008, pouco antes do início do Campeonato Brasileiro, eu fui escalado para fazer uma matéria de apresentação do torneio que falasse da Série A e que não deixasse de lado a segunda divisão que já teria a participação do Corinthians.
Sem muito tempo para a tarefa, saí atrás de entrevistas com Muricy Ramalho, então técnico do São Paulo, que tentava levar o time ao tricampeonato --feito conseguido-- e Mano Menezes com a missão de levar o Corinthians de volta à elite do futebol brasileiro --missão que também foi realizada.
Ao lado do companheiro Luís Nogueira, tive a oportunidade de bater um longo papo com os dois treinadores. Dessas entrevistas tirei duas frases que podem explicar muito o que aconteceu na última semana, no episódio da escolha do novo técnico da seleção brasileira.
Antes das frases é sempre bom dizer a maneira patética e pouco inteligente de como a CBF, principalmente o presidente Ricardo Teixeira, conduziu o processo da escolha do sucessor de Dunga. Do jeito que foi feito, a imagem dos dois técnicos acabou tendo um desgaste desnecessário.
O encontro filmado e fotografado com Muricy foi ridículo e deixou a impressão é que o técnico escolhido, Mano Menezes, não era a preferência do dirigente. O correto seria que essas negociações fossem feitas de maneira sigilosa, sem colocar os profissionais em uma situação delicada e constrangedora.
Muricy, por exemplo, vai precisar de muito tempo para explicar a razão de não ter aceitado ser o treinador da seleção. Já Mano Menezes, por outro lado, gastou um bom tempo dizendo que não via nenhum problema em não ser a primeira opção da CBF.
Voltando às frases.
'Só estou aqui porque ganho', foi a frase que mais marcou de Muricy Ramalho, que sabe que os técnicos só sobrevivem ao cargo quando conseguem vitórias e títulos. Por isso, acho que Muricy Ramalho errou em não aceitar o cargo de técnico da seleção. Pois, ao deixar que os dirigentes do Fluminense definissem o seu destino, ele sabia que não seria liberado --e serão os mesmos cartolas que vão pressionar o técnico quando os bons resultados desaparecerem.
Respeito muito e admiro o caráter de Muricy em sempre manter sua palavra e cumprir seus compromissos, mas, no caso, não seria nenhuma traição com o Fluminense se ele aceitasse o convite para dirigir o Brasil. Seria a coroação de seu trabalho. Tenho a certeza que Muricy acabou de deixar de assumir a seleção no auge de sua carreira. Não sei se ele terá outra chance como essa.
'Fica mais fácil trabalhar quando você pega um time no mau momento.' A citação de Mano Menezes, quando perguntado sobre qual a razão de assinar com o Corinthians, na Série B, quando poderia trabalhar em qualquer clube do Brasil, ilustra bem o momento que ele assume a seleção.
O novo técnico do Brasil tem experiência em reconstrução de grandes times em momentos complicados. Ele fez isso no Grêmio, quando fez um novo time durante a disputa da Série B e conseguiu o acesso, um ano depois colocou o time na Copa Libertadores e levou, logo em seguida, o time gaúcho a decisão do torneio.
No Corinthians, a trajetória foi muito semelhante. Montou um time para ganhar a Série B e com a base desse elenco, um ano depois ganhou o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil. Esse ano, não foi também em administrar o elenco numeroso do Corinthians, fracassou na Libertadores, mas conseguiu sobreviver ao desastre no torneio continental e conseguiu reestruturar o time que lidera o Campeonato Brasileiro, com excelente aproveitamento de pontos.
Acho que Mano Menezes tem tudo para fazer um bom trabalho na seleção. É um técnico inteligente, que estuda muito. Nós não podemos esquecer que no primeiro semestre do ano passado ele fez o Corinthians jogar muito bem, com um esquema moderno e equilibrado, que ele pretende utilizar na seleção, o 4-2-3-1.
Com uma linha de quatro zagueiros, com um lateral (Alessandro) jogando praticamente como um zagueiro, enquanto o outro lateral (André Santos) tinha liberdade para atacar; dois volantes (Cristian e Elias) que procuravam o jogo e chegavam ao ataque; um armador central (Douglas) e dois pelo lado do campo (Dentinho e Jorge Henrique) que cumpriam a função de meias quando o time era atacado e funcionavam como pontas quando a equipe atacava. E finalmente tinha um excelente finalizador (Ronaldo).
Se conseguir dar o mesmo padrão à seleção, com certeza, em pouco tempo vamos esquecer o pragmatismo que marcou o Brasil treinado por Dunga.
Quanto à primeira convocação de Mano Menezes achei bem razoável. É lógico que esse não é um chamado definitivo para o Mundial de 2014 e muitos desses jogadores vão cair no esquecimento, mas já vejo no técnico a preocupação de observar alguns jovens jogadores para o time olímpico --já que o pré-olímpico já se aproxima-- e a própria renovação da seleção.
Até a próxima.
DESTAQUE
Brilhante a campanha do Internacional depois do recesso no Campeonato Brasileiro. Foram quatro vitórias, em quatro jogos. O treinador Celso Roth, que mudou a maneira do time jogar e conseguiu recuperar o futebol de jogadores, como Taison, tem ainda dois grandes desafios. O primeiro está em eliminar o São Paulo, nas semifinais da Libertadores. O outro é terminar com a fama que é de começar muito bem nos clubes que dirige, mas não conseguir manter o ritmo de seus comandados durante uma competição longa --como aconteceu recentemente no Grêmio e no Atlético-MG.
ERA PARA SER DESTAQUE
Não se pode aceitar, de maneira alguma, que no Campeonato Brasileiro se disputem partidas em gramados encharcados e sem condições como que aconteceu na partida Grêmio e Vasco. O árbitro Heber Roberto Lopes não deveria permitir que o jogo tivesse início, pois a bola não rolava. Numa situação como essa, o árbitro tem que cuidar da integridade dos jogadores e esquecer se o calendário está apertado ou se a partida está tendo transmissão pela televisão.
Humberto Luiz Peron é jornalista esportivo, especializado na cobertura de futebol, editor da revista "Monet" e colaborador do diário "Lance". Escreve às terças-feiras no site da Folha.
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