Governo é péssimo empresário e ótimo patrão

Sou daqueles que cresceram ouvindo (e vendo) que os Correios eram um modelo de excelência, uma exceção na incompetência pública. A crise moral e funcional dessa empresa estatal apenas confirma o que, a julgar pelo debate eleitoral, muitos brasileiros não sabem: o governo é péssimo empresário e excelente patrão. Um grande passo na cidadania será a nação aprender como o poder público, independentemente de partido, desperdiça dinheiro.

O PSDB critica o loteamento cargos do PT, mas quando seus integrantes estiveram no poder federal também participaram ou foram coniventes com essa prática. Basta ver como foi a montagem do governo depois da eleição de Tancredo Neves. Seria tolice imaginar que apenas critérios técnicos orientam a montagem dos governos estaduais dos tucanos.

Mas considero que José Serra pode prestar um bom serviço educativo se continuar defendendo (e o partido covardemente não defendia) como está defendendo as privatizações, num debate provocado pelo PT.

Concordo com Serra que se fossem impedidas as privatizações, provavelmente estaríamos falando no orelhão, Só não falou que talvez nem tivéssemos essa expansão da internet.

Minha visão da privatização não veio de um modelo ideológico. Como repórter, via como as empresas estatais eram ineficientes e cabides de emprego, sujeitas às oscilações políticas. Muita gente se esqueceu, mas os bancos estaduais conseguiam dar prejuízos, cobertos pelos contribuintes - e olhe que tem de fazer esforço para banco perder dinheiro. Veja o caso, entre muitos outros, do Banespa.

Tirando uma ou outra exceção, inovação empresarial não combina com burocracias públicas e, ainda pior, quando há loteamento de cargos entre os políticos. O espírito empreendedor exige capacidade de punir quem erra, premiar quem acerta, além do estímulo constante a gente inventiva. Todo o governo brasileiro (e aliás qualquer governo) não consegue produzir num ano a inovação que uma Google ( sem exagero) produz num mês. Estou sendo aqui generoso.

Vou repetir o que um leitor desta coluna disse: governo é péssimo empresário, mas excelente patrão. Daí que, por trás da tal defesa do patrimônio nacional, há uma dose de empulhação para proteger benefícios, bancados, no final, por quem paga imposto.