É arquiteto graduado pela USP.
Os rumos do submarino Consolação
Há dez anos eu uso quase diariamente a passagem subterrânea da rua da Consolação, aquela no cruzamento com a avenida Paulista, que interliga o cine Belas Artes, o Riviera e o ponto do ônibus. Me instiga seu jeitão alternativo, os "pixos" e grafites e os cartazes amarelados de astros do cinema espalhados pelas paredes.
Passagem-portal mágico, respiro dimensional ante o ritmo frenético do que acontece em cima. Submarino estacionado em outro tempo, com seus comandantes livreiros, sedentos por uma boa prosa, distribuindo fábulas e tragédias a R$ 2.
Pois o futuro dessa passagem foi tema de uma audiência pública de que participei na semana passada na Universidade Mackenzie, realizada pela Subprefeitura da Sé e pela Secretaria Municipal de Cultura.
Mais um debate democrático, aberto à população, sobre o destino da nossa cidade, organizado pela atual gestão Haddad –no dia anterior, tinha sido realizada a primeira audiência pública para discutir o futuro do Minhocão.
Estiveram presentes o subprefeito, líderes de movimentos sociais, vereadores, militantes de movimentos culturais, estudantes e moradores da região, além dos líderes da Via Libris, associação de livreiros que administra o sebo e o espaço cultural da passagem. Todos discutiram possíveis ações que valorizem a passagem e sua vocação cultural.
É claro que, muito além de ser uma passagem física, existem dimensões simbólicas impregnadas naquele local, espaço afetivo do cinema paulistano e da literatura.
Lugar qualificado para o estar, extensão pública do cine Belas Artes, potencial palco para apresentações artísticas e exposições (de modo organizado e com uma estrutura melhor que a atual). Essa região é o centro do "Território Cultural", recém-aprovado pelo novo Plano Diretor.
Não se deve, no entanto, pensar nesse projeto de modo isolado, sem considerar seu entorno imediato, como a ilha Paulista (aquele pequeno quarteirão-rotatória) ou a praça dos Arcos, ambos abandonados pelo poder público há décadas.
Área nobre, símbolo de resistência e da memória paulistana, atual reduto do craque e de muitos crimes que já presenciei.
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