É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Crise na USP
SÃO PAULO - Eu me esforço, mas não consigo entender a lógica da greve na USP. Quando uma empresa está prestes a falir, com 106% de seu faturamento comprometidos com a folha salarial, empregados não costumam exigir aumentos. Nestes casos, a atitude racional é rezar para que a firma consiga sobreviver. É brincadeira, claro. Rezar nunca é uma atitude racional.
O intento dos grevistas parece ser pressionar sabe-se lá quem para que o governo do Estado aumente a proporção de recursos que transfere para a universidade e continuar atuando como se nada tivesse acontecido. Vejo alguns problemas aí.
Em primeiro lugar, seria a admissão de que a USP, a principal universidade do país, não tem competência para gerir a si própria nos termos preconizados pela autonomia universitária, princípio pelo qual a instituição, corretamente, tanto se debateu.
Além disso, os grevistas dão a impressão de que nada têm a ver com os erros administrativos que levaram à situação de desequilíbrio financeiro. Nada mais falso. O festival de obras e promoções salariais patrocinados pela reitoria anterior foi aprovado por unanimidade no Conselho Universitário, em que professores, funcionários e alunos têm assento. Ao que consta, nem os sindicatos, que hoje promovem a paralisação e criticam com vigor as gestões presente e passada, denunciaram à época os aumentos como irresponsáveis.
Não quero com essas observações dizer que o Estado não deve investir mais em ensino superior e ciência. Estou convencido de que o futuro do país passa necessariamente por essa área. Mas, a essa altura, me parece uma temeridade colocar mais dinheiro nas universidades estaduais com a péssima estrutura administrativa e decisória que têm. Creio que faz mais sentido investir em projetos e programas específicos (mais ou menos como faz a Fapesp) que pelo menos passam por um filtro de qualidade antes de ser aprovados.
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