É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Autoridade e força
SÃO PAULO - Hoje eu tomo carona na coluna do sempre instigante Contardo Calligaris, que na última quinta-feira lançou algumas ideias sobre a origem da autoridade.
Segundo Contardo, entre as muitas respostas para o problema, destacam-se duas vertentes. Para a primeira, a fonte de toda autoridade é, em última instância, a violência. Obedecemos para não sofrer consequências desagradáveis. Já para a segunda, seria possível constituir uma autoridade baseada na gratidão. O modelo aqui seria o da família. Filhos obedecem aos pais porque estes os alimentaram e ampararam. Penso que a segunda interpretação caminha muito perto da ficção e que a primeira é boa, mas incompleta.
A violência explícita, implícita ou simbólica é indissociável da noção de autoridade, mas, de modo geral, as pessoas obedecem de bom grado a normas sociais, sem necessidade do recurso à força. No Brasil, por exemplo, dado o baixíssimo índice de solução de homicídios, seria racional resolver conflitos assassinando a parte contrária. Ainda assim, só uma pequena minoria usa essa estratégia.
Meu ponto é que, como animais sociais, temos um impulso etológico a nos conformar ao grupo. Evidências cômicas dessa tendência surgem dos experimentos de Solomon Asch. Ele submeteu voluntários a perguntas ridiculamente fáceis, em que era quase impossível dar a resposta errada. Sem interferências, o índice de acertos era de 97%. Mas, quando o pesquisador punha comparsas seus para dar propositalmente respostas erradas antes do voluntário, a taxa de acertos despencava para 25%. As pobres cobaias repetiam as bobagens ditas pelos atores. A mensagem aqui é que, para não ficar contra a corrente, topamos quase tudo.
E isso, creio, facilita tremendamente a vida de autoridades. A força pode então tornar-se, para a maioria, um reforço simbólico e, para a minoria de indivíduos recalcitrantes, um recurso de última instância.
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