É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Discriminação invisível
SÃO PAULO - Como todos os anos, nas semanas que antecedem e sucedem o Dia Internacional da Mulher, celebrado hoje, feministas põem a boca no trombone para denunciar a discriminação de gênero nos salários. A queixa procede, mas numa proporção provavelmente menor do que querem as militantes.
De um modo geral, essas estatísticas são obtidas comparando-se os salários medianos percebidos por homens e mulheres com características hierárquicas e demográficas semelhantes. Elas invariavelmente ganham menos. No caso do Brasil, onde a diferença é alta, elas podem receber 70% do que é auferido por eles.
Esses números, porém, tendem a ser enganosos, já que escondem motivos legítimos para a disparidade, como horas trabalhadas, escolhas de carreira (setores piores de trabalhar, como mineração e construção civil, pagam melhor e têm maior presença masculina). Fatores psicológicos, como a maior propensão dos homens para pedir aumento ao patrão e correr riscos em geral, também influem. As pausas que as mulheres fazem em suas carreiras para ter filhos e a maior flexibilidade que pedem para poder cuidar dos rebentos também estão entre as causas mais citadas para explicar o "gap" salarial.
O interessante é que, à medida que os estatísticos vão controlando os resultado para essas características, a diferença cai, mas nunca chega a zero. É essa parte, digamos, inexplicável da disparidade que nos autoriza a falar em discriminação. Aqui, atuariam estereótipos inconscientes contra as mulheres. Essa percepção é reforçada por estudos que mostraram que currículos idênticos com nomes masculinos e femininos enviados a firmas resultavam em ofertas salariais mais generosas para os homens.
Não sou muito otimista quanto à nossa capacidade de combater o preconceito nesses níveis mais inconscientes. Prova disso é que, embora poucos saibam, baixinhos também sofrem forte discriminação salarial.
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