É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Desigualdade e inveja
SÃO PAULO - Combater a desigualdade está se tornando o mantra da modernidade. Se antes o tema era quase exclusivo de políticos de esquerda, agora entrou na agenda de todos. Hoje, até o PP, o sucedâneo da velha Arena, define "a eliminação das desigualdades" como um de seus objetivos maiores.
Mas será que queremos mesmo eliminar as desigualdades? É evidente que, quando a diferença entre a maior e a menor remuneração existente numa sociedade cresce demais, a mobilidade social fica emperrada, o que gera uma série de problemas. Sistemas que beneficiam apenas uma elite, além de carregarem uma injustiça intrínseca, terão dificuldade para funcionar de forma eficaz.
Alguma disparidade, porém, pode ser positiva. Desde que os mais pobres tenham assegurada uma existência digna e sua situação esteja sempre melhorando, a desigualdade não é imoral e ainda funciona como um motor da economia e, portanto, da prosperidade. É para comprar um carrão melhor que o do meu vizinho que eu me disponho a trabalhar mais. É meio rude explicitá-lo, mas a palavra-chave aqui é "inveja".
E esse é um sentimento complicado. Religiões tendem a condená-lo, mas, como acabamos de ver, ele também tem uma faceta positiva. Bertrand Russell, o filósofo e matemático inglês, em "The Conquest of Happiness", de 1930, revela algumas das ambiguidades em torno da inveja.
Segundo Russell, ela está na base da democracia e funciona como uma força de remoção de injustiças. Tende a fazê-lo, porém, da pior forma possível, que é reduzindo os prazeres dos mais afortunados em vez de aumentar os dos menos. No plano mais individual, diz o autor, ela é uma das principais fontes da infelicidade humana, já que é insaciável. "Se você deseja glória, pode invejar Napoleão. Mas Napoleão invejava César, César invejava Alexandre, e Alexandre, ouso dizer, invejava Hércules, que nunca existiu."
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