É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Nada mais que a verdade
Mark Ralston-19.out.2016/AFP | ||
O republicano Donald Trump e a democrata Hillary Clinton em debate em Las Vegas |
SÃO PAULO - Donald Trump faz a delícia dos checadores de fatos, pois ele mente uma enormidade. De acordo com o site PolitiFact, só 4% do que o candidato diz é rigorosamente verdadeiro e 70% de suas declarações podem ser classificadas como mentira, numa rica gradação que vai do majoritariamente falso ao escandalosamente inverídico. O resto fica na zona cinzenta das quase verdades e das meias-verdades.
Já Hillary Clinton, que Trump tenta pintar como desonesta, parece quase uma santa na comparação com o republicano. Segundo o PolitiFact, 24% do que ela diz é verdadeiro, com as mentiras batendo em 26%.
É chocante que o mais sincero dos postulantes ao cargo mais importante do mundo falte com a verdade em praticamente um quarto de suas asserções, mas esse é um número até que razoável para a espécie humana.
Autores como Robert Feldman e David Livingstone Smith mostram que mentimos muito —e desde criancinhas. Aliás, os pequenos estão mais para Trump que para Hillary. Aos três anos, crianças descumprem as regras estipuladas em 82% das ocasiões e mentem sobre isso 95% das vezes. A boa notícia é que até melhoramos um pouco quando crescemos. Na faculdade, jovens mentem para os pais em 50% de suas conversas e, para estranhos, em 80%.
Uma comparação mais pertinente entre políticos em campanha e pessoas normais são os currículos. Ambos estão tentando vender a si mesmos e sabem que podem ser apanhados em flagrante. Segundo empresas especializadas em conferir CVs, entre 30% e 50% das pessoas que buscam uma colocação falsificam informações importantes em seus currículos. A cifra beira os 80% se incluirmos também os CVs que apenas tentam induzir o avaliador a erro.
Trump parece de fato ser um mentiroso compulsivo, mas a humanidade talvez não fique muito atrás. Não é muito enaltecedor para a espécie, mas é como somos.
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