É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Pela libertação das plantas
Divulgação | ||
Planta carnívora Cephalotus follicularis, que teve seu material genético sequenciado em pesquisa |
SÃO PAULO - Essa os vegetarianos vão odiar. Se você pensa que basta renunciar à carne e a outros produtos de origem animal para acabar com o especismo que assola o planeta, saiba que as coisas podem não ser tão simples. Ainda que timidamente, vai ganhando corpo a noção de que plantas também devem ser objeto de consideração ética. É um exagero falar em direitos dos vegetais, mas um comitê do governo suíço, após análise de evidências científicas, concluiu que plantas devem ter sua "dignidade" protegida.
E que evidências científicas são essas? É aqui que as coisas ficam interessantes. Ainda não vi ninguém sério defendendo que existe uma fitoconsciência, mas já há trabalhos mostrando que plantas são seres bem mais sofisticados, sensitivos e comunicativos do que se imaginava, de modo que alguns cientistas falam em inteligência vegetal. Stefano Mancuso e Alessandra Viola, autores de "Brilliant Green" (verde brilhante), estão nesse grupo.
O tom do livro é claramente apologético. A dupla não esconde o desejo de chocar o leitor, aproximando funções desempenhadas por plantas daquelas que julgávamos exclusivas de animais. Eles defendem, por exemplo, que nossos amigos clorofilados apresentam todos os cinco sentidos presentes no corpo humano e mais 15 outros (percepção de gravidade, campo magnético etc.). Seus argumentos talvez sejam um pouco enfeitados, mas estão longe de pertencer ao campo da ficção.
Mais do que isso, recorrendo a um complexo sistema de sinalização química, plantas conseguem convocar insetos para defendê-las de predadores, alterar seu gosto para tornarem-se intragáveis e até alertar outros vegetais da presença de ameaças. São comportamentos que não hesitaríamos em classificar como inteligentes se exibidos por um animal. É só devido a um animalocentrismo que herdamos de Aristóteles que nos recusamos a ver a inteligência das plantas.
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