É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
Usando remédios vencidos
oliver.dodd/Flickr | ||
Medicamento em pílulas |
SÃO PAULO - Em tempos de vacas magras, o administrador público tem o dever de otimizar os recursos de que dispõe. Tenho uma sugestão que pode trazer alívio para os cofres da saúde: usar remédios vencidos.
Sim, sei que parece uma heresia. Mas quem conhece os trâmites de licenciamento de drogas sabe que a data de validade não passa de uma aproximação —e bastante enviesada em favor do descarte. A ProPublica acaba de divulgar uma reportagem de Marshall Allen mostrando como as coisas funcionam e como se pode economizar bilhões de dólares estendendo o prazo de validade de drogas.
Remédios podem estragar. Isso é um fato. Assim, o licenciamento exige que haja uma data de vencimento. O problema é que ela é estabelecida através de pouca pesquisa e muito chute. A maioria dos fármacos vale entre dois e três anos. Como os laboratórios ganham sempre que uma farmácia ou hospital é obrigado a descartar drogas vencidas e repô-las, têm pouco interesse e estabelecer com precisão a validade real.
Mas, como todo mundo sabe que princípios ativos não perdem suas propriedades da noite para o dia, o próprio governo federal americano armazena grandes quantidades de remédios vencidos para a eventualidade de emergências sanitárias. De vez em quando, essas drogas são testadas e boa parte delas continua eficaz mesmo décadas depois do prazo.
Como os americanos são práticos, a Força Aérea pediu em 1986 à FDA (agência de medicamentos) e ao Departamento de Defesa que lançassem um programa de extensão do prazo de validade. A cada ano, testavam amostras antigas de drogas caras das quais os militares tinham um grande estoque prestes a vencer e, se funcionassem, a expiração era adiada. Em 2016, as Forças Armadas gastaram US$ 3,1 milhões no programa e economizaram US$ 2,1 bilhões em custos de reposição, um retorno de US$ 677 por dólar investido. É o caso de pensar em algo assim no Brasil.
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