É bacharel em filosofia, publicou 'Pensando Bem...' (Editora Contexto) em 2016.
Escreve às terças, quartas, sextas, sábados e domingos.
A culpa é da imprensa
Branden Camp/Associated Press | ||
Homem lê jornal na cidade de Macon, na Geórgia (EUA) |
SÃO PAULO - Especialmente quando estão em apuros, políticos recorrem a supostos complôs entre a mídia e elites com interesse na manutenção do "statu quo" para explicar suas dificuldades e até o surgimento de denúncias contra sua administração. O subtexto aqui é o de que os meios de comunicação não hesitam em utilizar sua capacidade de influir para instilar as preferências ideológicas de seus controladores no restante da população.
É uma ideia verossímil, mas será que é verdadeira? Na era do "big data", dá para testar a hipótese, e foi isso que Matthew Gentzkow (Stanford) e Jesse Shapiro (Brown) fizeram num estudo de 2010. Em primeiro lugar, eles foram a uma base de 433 jornais dos EUA, que respondiam por 74% da circulação total. Em seguida, analisaram os textos noticiosos dessas publicações e os classificaram segundo um "index" ideológico baseado na frequência de expressões mais usadas por democratas ou republicanos. Por exemplo, republicanos quase sempre se referem a um tributo sobre sucessões como "death tax" (imposto sobre a morte) enquanto democratas preferem usar "estate tax" (imposto sobre patrimônio).
De posse dessa classificação, tentaram identificar fatores que faziam com que alguns jornais tendessem mais à esquerda e outros mais à direita. E o que eles descobriram é que as preferências políticas dos leitores da área onde o jornal circulava explicavam muito melhor a linha editorial da publicação do que as inclinações partidárias de seus donos e diretores.
Não é que os proprietários nunca puxem a brasa para a sua sardinha, mas que tendem a fazê-lo em situações específicas e sem contrariar sistematicamente as preferências do leitorado. Faz sentido, já que a meta das empresas é ganhar dinheiro.
Se esses achados podem ser extrapolados para outros mercados, há mais perigo em a mídia atuar como uma caixa de ressonância do público do que como uma quinta-coluna.
Livraria da Folha
- Coleção "Cinema Policial" reúne quatro filmes de grandes diretores
- Sociólogo discute transformações do século 21 em "A Era do Imprevisto"
- Livro de escritora russa compila contos de fada assustadores; leia trecho
- Box de DVD reúne dupla de clássicos de Andrei Tarkóvski
- Como atingir alta performance por meio da autorresponsabilidade