É cientista político, especialista em política internacional e Oriente Médio e pesquisador da Universidade Harvard. Foi consultor da ONU.
Trump é despreparado, mas é bom não esperar demais de Hillary
Hillary Clinton e Donald Trump duelarão nos três próximos meses para governar a maior máquina econômica, política e militar do globo.
Trump concorre como franco-atirador, disposto a qualquer verborragia suicida, e Hillary tem sobre os ombros a responsabilidade de não perder para um adversário visto, inclusive por alguns correligionários, como desqualificado, mas imbuído de significativa aceitação popular.
Robyn Beck-28.jul.16/AFP | ||
Hillary Clinton, a candidata democrata à Casa Branca, discursa durante a convenção de seu partido |
As armadilhas desta eleição se ancoram em percepções infladas das características de cada candidato. As premissas parecem consistir em balizas do tipo: uma vitória de Hillary salvaria a pátria (e o mundo), e sua eventual derrota decretaria uma era apocalíptica sob Trump.
É importante lembrar que "Virtus in medium est" (a virtude está no meio, no equilíbrio). Nos EUA, o Legislativo é poderoso, independente e não serve de apêndice do Poder Executivo. Os freios do Trump serão a Câmara e, sobretudo, o Senado. Do Judiciário então, nem se fala.
Triunfando, Trump estará sujeito a franquear o seu poder na base do partido e a terceirizar a escolha de indicações-chave, como as secretarias de Estado e de Defesa. Cargos vitais na estrutura de poder dos EUA, as escolhas para ambas as posições teriam de passar, como reza a tradição, pelo consentimento e confirmação do Senado.
Ademais, se os democratas conquistarem a maioria na Câmara e, particularmente, no Senado, Trump estará praticamente imobilizado e terá mais problemas internos do que externos para desatar. Persistindo a configuração com o predomínio dos republicanos nas duas casas, ele dependerá, como nenhum outro presidente, de sua base partidária.
Em seu comovente discurso na convenção democrata, que selou a candidatura de Hillary, o presidente Barack Obama exagerou a capacidade da candidata de seu partido de forma quase imperdoável.
Não há dúvidas de que a Hillary tem o discurso enlatado mais bem modulado pelo establishment washingtoniano. Em matéria de política externa, porém, ela esteve em todas as vezes do lado de guerras e intervenções militares inconsequentes, e isso coloca sob escrutínio a sua suposta "exímia" capacidade de julgamento descrita por Obama.
Da perspectiva dos interesses brasileiros, nada indica que a vitória da Hillary será mais interessante. Nunca é tarde para lembrar que ela raramente apreciou, enquanto secretária de Estado, o protagonismo do Brasil na geopolítica global.
Um país do perfil do Brasil -potência regional com parcerias diversificadas, capacidade de articulação nos foros multilaterais, independência decisória, visão legalista da ordem internacional e aspirações de grandeza (ainda que sem uma grande estratégia)- nunca deixou de ser observado com um grau de desconfiança por ela.
Trump é o mais despreparado presidenciável da história do Partido Republicano. É bom, contudo, não elevar expectativas com Hillary. Se dependesse de suas escolhas, a negociação do acordo nuclear iraniano não teria avançado, e os EUA estariam enterrados na Síria.
O intervencionismo americano pode voltar à cena —e, definitivamente, ela não exercerá o "terceiro mandato" de Obama.
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